Impedimento claro
Melhor do país em 2013, Berkenbrock pede perdão ao Metrô: 'Sinto por eles'
Sempre um dos melhores do Campeonato Catarinense, desde 2004 presente em todas as finais do estadual, eleito o melhor da Série A do Brasileirão de 2013, 22 anos de arbitragem, 17 deles na elite do país. Carlos Berkenbrock teme que tudo isso vá por água abaixo. Foi ele o auxiliar número um de Criciúma 1 x 0 Metropolitano, marcado por um erro dele, no gol de Paulo Baier, (muito) impedido, para desespero e revolta do Verdão de Blumenau.
O que posso falar depois disso? Vi uma coisa que não existia, não tem explicação
Carlos Berkenbrock
Na mesa de um de seus escritórios de advocacia, em
Balneário Camboriú, o advogado Carlos Berkenbrock tenta se recompor do erro e
do turbilhão que viveu na última quarta-feira, no Heriberto Hülse. Mas está
difícil. Em entrevista ao GloboEsporte.com/sc, o assistente filiado à Federação
Catarinense de Futebol e com selo da Confederação Brasileira de Futebol,
desabafou. E, claro, admitiu o grave erro.
– C.... não tem explicação.- O que posso falar depois disso? Vi uma coisa que não existia, não tem explicação. Fico chateado, faço o que gosto, e com esse erro vou ficar fora da escala, não vou poder fazer o que eu mais gosto. Errar por querer a gente não quer. Não existiu dolo, culpa, somos pessoas de índole boa. Vinha de um ano bom, esse ano não aconteceu nada, estava confiante. Para mim estava legal (o Paulo Baier), conversei com os jogadores, eles me questionaram e falei que estava tranquilo, que estava certo. Quando acabou o jogo fiquei sabendo que tinha errado. Não consegui dormir, não consigo almoçar – desabafa Carlos Berkenbrock.
O lance em que Carlos Berkenbrock deu posição legal para Paulo Baier
(Foto: Reprodução/Internet)
(Foto: Reprodução/Internet)
Mais do que lamentar e se desculpar para o
Metropolitano, clube que sofreu com o lance de impedimento de Paulo Baier, o
assistente se sente envergonhado por sua classe, por toda a arbitragem
catarinense. Esse ponto, diz Berkenbrock, é o que mais vai pesar negativamente nos
próximos dias, nas próximas semanas.
– Erro desastroso. Hoje conversei com meus colegas, me
sinto envergonhado, vergonha do lance. O que me deixa mais chateado é colocar
em dúvida toda a arbitragem do campeonato. Não é o meu erro, é o erro da
arbitragem de Santa Catarina. Os companheiros fazem um bom trabalho e um erro estraga
toda uma classe, isso me deixa mais aflito. Não tem como voltar atrás – lamenta
o auxiliar, que se apega ao prêmio de melhor do Brasileirão do ano passado para
mostrar, ou pelo menos tentar, que o erro em Tigre x Metrô foi acidental.
– É a maior prova, fiz 28 jogos ano passado, entre Série
A, Série B e Copa do Brasil, e não tive nenhum erro de pequena ou grande proporção.
Esse ano também, sem erros de pequena ou grande proporção.
AOS DE BLUMENAU, SINCERAS DESCULPAS
Auxiliar pediu desculpas para a torcida do Metropolitano
(Foto: Giovanni Silva/CA Metropolitano)
(Foto: Giovanni Silva/CA Metropolitano)
Ele mesmo, a arbitragem de Santa Catarina, a federação
catarinense. Todos devem se sentir mal com o ocorrido da última quarta-feira.
Mas Carlos Berkenbrock sabe que os mais sentidos com a história são os
envolvidos no Metropolitano. Jogadores, comissão técnica e, principalmente, a
torcida do Verdão do Vale.
Por isso, estar em Blumenau, voltar a atuar num jogo
do Metropolitano, será sofrível para ele, apesar de experiente e se dizer
pronto para encarar normalmente as próximas rodadas do campeonato.
– Estou tantos anos na arbitragem, os outros erros
foram mais difíceis, esse foi de extrema facilidade. Todo dia que passar por Blumenau
vou me lembrar desse erro. Sinto muito por eles. Vou demorar dois, três dias
para me reestabelecer, voltar à vida normal. Um erro causa muita coisa para
outras pessoas – diz o assistente, que não teme fazer outro jogo do Metrô, em
especial no Sesi.
– Não temo isso, estamos em 2014, não estamos mais na
época do olho por olho e do dente por dente.
LONGE DA INTERNET
O dia após o erro não é um dia comum. Não é possível,
por exemplo, fazer coisas rotineiras, como entrar na internet. Até é possível,
claro, mas Berkenbrock não quer, fala que não pode, para o seu bem. Instantes
após o lance do gol irregular de Paulo Baier, as redes sociais ‘bombaram’ com
montagens tirando sarro do árbitro auxiliar.
– Não vi nada, evitei. Da forma que estou, quanto mais
olhar isso mais vai piorar. Meio que me isolei, tentando evitar. Errei, estou
magoado, sentido, abalado. Recebi mensagens de vários árbitros, lembrando a
minha arbitragem – comenta o residente de Itapema, presente na segunda semifinal
e na primeira final do último Catarinense.
QUASE UM PADRE, ELE FALA EM PERDÃO
Paulo Baier, em impedimento, não quis nem saber e fez o gol (Foto: Fernando Ribeiro / Criciúma EC)
A fala calma, consciente, inteligente, não é por
acaso. Natural de Rio do Oeste, no Alto Vale de Itajaí, Carlos Berkenbrock foi
seminarista. Durante cinco anos, esteve em Taió, Rio do Oeste, sua cidade
natal, e Erechim, no Rio Grande do Sul. Foi no início do segundo grau na escola.
Se não foi ordenado padre – ele deixou o seminário quando estudava filosofia –,
o auxiliar manteve o discurso de um.
– Minha vida segue. Se todos que cometessem um erro na
vida fossem julgados e execrados da sociedade, não teria lugar para colocar essas
pessoas. Para todo erro não existe a reparação, mas existe o perdão. Se não foi
por dolo, não tem porque ser execrado, tem que ter perdão – filosofa o árbitro
desde 1992.
Apesar de morar no Litoral Norte, com a esposa e
filhos, Berkenbrock não tirou Rio do Oeste de seu roteiro, ainda mais agora. É
lá, com os pais, na roça, como ele menciona, que a paz é bem vinda. Em seu
canto, o assistente se espairece quando é preciso, como agora.
– Vou para o meu cantinho, para a roça, para o sítio.
Até os 20 anos eu ajudei os meu pais na roça. Buscamos agora o apoio na família,
minha esposa, meus filhos vão me dar o suporte para esse momento, as pessoas
que a gente ama para passar esse momento ruim. São 17 anos de Brasileiro, isso não
pode ser apagado, por um erro. Claro que machuca, vai dar uma balançada, isso a
gente fica pensando. Não pode deixar abalar, é tentar voltar o quanto antes
para voltar a trabalhar.© Copyright 2000-2014 Globo Comunicação e Participações S.A