Olho tático por André Rocha barça vs real


Arbitragem errou feio, mas o pecado maior do superclássico foi do Real: dar espaços a Messi

por André Rocha da espn

Lionel Messi comemora o gol que deu a vitória ao Barcelona sobre o Real Madrid no Santiago Bernabéu

Lionel Messi teve liberdade e desequilibrou no Santiago Bernabéu. 


Com as escalações confirmadas dentro do esperado, a primeira surpresa quando a bola rolou no Santiago Bernabéu foi a inversão de Piqué e Mascherano na zaga do Barcelona. Provavelmente para o argentino, mais rápido, fazer a cobertura de Daniel Alves no duelo com Cristiano Ronaldo e deixar o companheiro, mais alto, no duelo com Benzema. Como Puyol fez tantas vezes, principalmente na Era Guardiola.
A novidade do Real Madrid de Carlo Ancelotti foi a marcação avançada e por pressão, característica do arquirrival. E Di María começou a se destacar, ora fechando os caminhos de Xavi como meia do 4-3-3 merengue, ora abrindo para ajudar Marcelo no combate à dupla Daniel Alves/Neymar e deixar Ronaldo mais solto.
Quando o argentino saía à esquerda, Xabi Alonso avançava e alinhava a Modric para duelar com Xavi e Fábregas. Ou Iniesta, que saía do posicionamento aberto, quase como ponta, para ser mais um no meio criando superioridade numérica entre as intermediárias.
O erro do Real foi não compactar as linhas, premissa nos tempos de José Mourinho depois dos 5 a 0 no primeiro confronto em 2010. Antes, se o time avançava os volantes, um dos zagueiros saía para combater Messi e não deixar espaços entre a defesa e o meio-campo. Permitir que o argentino domine e indefina a marcação é suicídio.
O primeiro gol do superclássico é emblemático. Messi recebe às costas de Alonso e Modric. Pepe e Sergio Ramos ameaçam sair para o bote, mas já é tarde. Para piorar, Carvajal está marcando por dentro. No início, o lateral não fez a leitura de que Iniesta, mesmo circulando e procurando o centro, era o ponteiro do 4-3-3 blaugrana. Assistência do dez, gol do camisa oito logo aos seis minutos.


Flagrante do momento em que Messi recebe entre a defesa e os volantes do Real e Iniesta aparece livre pela esquerda no primeiro gol do Barcelona.
Flagrante do momento em que Messi recebe entre a defesa e os volantes do Real e Iniesta aparece livre pela esquerda no primeiro gol do Barcelona. 


Tonto, o Real se livrou de sofrer o segundo em infiltração de Messi, desta vez como um típico centroavante. O chute cruzado saiu errado. Depois Neymar - torto pela direita, mas também travado, sem confiança e ainda desconectado do estilo de sua equipe - demorou a finalizar e foi outro a perder boa chance.
Até os donos da casa descobrirem o atalho para chegar à meta de Victor Valdés: acionar Di María contra Daniel Alves. Como Neymar só voltava eventualmente para ajudar, Xavi chegava atrasado e Mascherano não saía porque Cristiano Ronaldo centralizava como atacante, o lateral brasileiro ficava sozinho. Mortal para quem nunca foi exímio marcador e levou um baile do argentino que, na prática, tomou o protagonismo do melhor do mundo de 2013 e de Gareth Bale.


Mapa de toques de Di María: argentino foi meia, ponteiro pela esquerda e o grande destaque do Real Madrid no clássico.
Mapa de toques de Di María: argentino foi meia, ponteiro pela esquerda e o grande destaque do Real Madrid no clássico. 



Primeiro Benzema perdeu chance cristalina. Depois virou o placar e ferveu o estádio com belo golpe de cabeça e conclusão precisa. Ambos em falhas de Mascherano, sentindo claramente a inversão de posicionamento que, na prática, se mostrou inútil e o Barça seguiu sofrendo com o jogo aéreo.
A vantagem fez o time branco recolher as linhas e Di María preencher um pouco mais o meio. Não a ponto de bloquear Messi. Nova investida entre as linhas, passe para Neymar, desarme da defesa e o gol que colocou o camisa dez no topo dos artilheiros do clássico com 19.


Rivais no 4-3-3. Quando Di María abriu à esquerda criou problemas para Daniel Alves, mas também deixou espaços no meio que Messi aproveitou.
Rivais no 4-3-3. Quando Di María abriu à esquerda criou problemas para Daniel Alves, mas também deixou espaços no meio que Messi aproveitou. 


O protagonismo dos argentinos no primeiro tempo deu lugar na segunda etapa aos erros da arbitragem comandada por Alberto Undiano Malenco. A começar pela falta fora da área de Daniel Alves sobre o até então apagado Cristiano Ronaldo que virou pênalti convertido pelo português.
Depois o equívoco mais grave. Neymar, enfim, acertou uma infiltração em diagonal e o passe de Messi, novamente com liberdade, seria mágico se o atacante brasileiro não estivesse adiantado. Por centímetros, mas em impedimento. Na sequência, o camisa onze cai em disputa com Sergio Ramos.
Este que escreve não marcaria o pênalti, embora fique a dúvida de toque do zagueiro por baixo e depois com o braço. Difícil também pelo hábito de cavar faltas de Neymar. A expulsão do defensor minou mais as forças dos merengues que o empate na cobrança precisa de Messi.
Com Varane no lugar de Benzema, o Real se fechou num 4-4-1 que isolava Cristiano Ronaldo na frente. Martino abriu o time para espaçar a marcação e fazer valer a vantagem numérica ao trocar Neymar e Fábregas por Pedro e Alexis Sánchez.



Após a expulsão de Sergio Ramos, Real se fechou num 4-4-1 e o Barcelona espaçou a marcação com Pedro e Alexis nas pontas e Iniesta de volta ao meio.
Após a expulsão de Sergio Ramos, Real se fechou num 4-4-1 e o Barcelona espaçou a marcação com Pedro e Alexis nas pontas e Iniesta de volta ao meio. 


O Barça subiu sua posse para 68%. Iniesta centralizou em definitivo, mas foi pela esquerda que criou a jogada da penalidade mais "marcável" da partida: Carvajal e Xabi Alonso não permitiram que o meia passasse com a bola dentro da área. Toque claro do volante.
21º gol de Messi sobre o arquirrival, transformando o gigante de Madrid na maior vítima do craque que reviveu seus melhores momentos. Pela genialidade de um dos maiores jogadores da história, mas também por conta dos espaços generosos que o adversário cedeu. Pecado maior que as decisões infelizes da arbitragem.
Fim da invencibilidade de 31 jogos, 18 na liga espanhola, do ainda favorito Real. Apesar da liderança do Atlético de Madrid com os mesmos 70 pontos. Um a mais que o atual campeão de volta ao centro das atenções. Assim como sua estrela mais reluzente.

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