Onu vs Vaticano

ONU pressiona Vaticano a entregar pedófilos à Justiça de cada país

Silêncio da Igreja Católica diante de crimes sexuais contra crianças é tema de relatório extenso nas Nações Unidas 

Por Amanda Aron / Fotos: AP - Reuters
É difícil afirmar se os casos de pedofilia aumentaram. Os dados são obscuros e as vítimas, muitas vezes, preferem guardar com elas os traumas e abusos. As investigações encontram muitas barreiras, o que impede que se chegue a um número exato de ocorrências. O que se sabe é que o número de denúncias tem crescido – e como nunca – em todo o mundo. No meio disso tudo, a Igreja Católica ainda é um dos maiores pivôs no caso de abusos contra menores.
E é exatamente por seus padres protagonizarem escândalos sexuais com crianças mundo afora que a instituição católica está sendo pressionada pela Organização das Nações Unidas (ONU). O Comitê de Direitos das Crianças das Nações Unidas divulgou em fevereiro deste ano um relatório devastador criticando fortemente a atitude – ou a falta dela –na luta do Vaticano contra os abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes.
De tudo que foi citado no documento, um item chama atenção: a não obrigatoriedade dos cleros em denunciar à Justiça casos de pedofilia que cheguem ao conhecimento da Igreja Católica. Já dizia o ditado: quem cala, consente. No relatório, foi exigido que a Santa Sé afastasse imediatamente de suas funções sacerdotes, padres e todo e qualquer líder religioso da Igreja Católica que tenha praticado crimes sexuais contra menores de idade e que também os denuncie à polícia de cada país, para que sejam investigados e punidos. Além disso, o documento ainda criticou a postura da Igreja Católica em questões relacionadas ao aborto e à homossexualidade.
O comitê da ONU também se declarou “profundamente preocupado” com a delicada situação da instituição católica diante dos crimes de pedofilia e, por isso, exigiu que a Santa Sé disponibilizasse seus arquivos para as autoridades civis de cada país, para que sacerdotes pedófilos e também “todos aqueles que encobriram seus crimes” possam ser julgados e condenados.
O documento veio como um tiro à queima-roupa em uma época em que a Igreja Católica celebra a imagem de um papa carismático, mas que pouco tem feito para combater ou entregar à Justiça os pedófilos de sua instituição. Pelo contrário, ainda de acordo com o relatório da ONU, “o Vaticano rompeu a Convenção sobre os Direitos da Criança ao manter políticas e práticas que levaram à perpetuação dos abusos e à impunidade dos agressores, como transferir os culpados de uma paróquia para outra para tentar esconder os crimes”, declarou um porta-voz das Nações Unidas.
Diante do exposto, o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, se manifestou. Ele disse que a Igreja não está de braços cruzados e que a “igreja trabalhou e trabalha muito em cima desses assuntos”. Para ele, boa parte das perguntas e afirmações do relatório da ONU seria fruto de perseguição e acusação ideológica, coisa que, convenhamos, a Igreja Católica entende como ninguém.
Se o Vaticano afirma que sua igreja é empenhada e comprometida na luta contra a pedofilia, que, ironicamente, ela colaborou fortemente para existir e crescer, por que não coopera com as investigações? Por que não denuncia criminosos que tenham agido contra as leis do homem e as leis de Deus entre os muros de sua instituição? 
Fonte: Folha Universal
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