'Quarentona', Muralha Amarela guia Borussia em missão contra o Real
Palco de milagres contra espanhóis, estádio fez aniversário na última semana e pode ser presenteado com mais uma noite épica. Antigo carrasco, Lewandowski retorna
Por Victor Canedo Dortmund, Alemanha
Para muitos, o sentimento é de liberdade. Outros falam em euforia e até comparam a emoção ao nascimento de um ser humano. Uns chamam de templo, outros de monumento ou simplesmente “o lugar perfeito”. Mas todos concordam ao dizer que o Signal Iduna Park (eterno Westfalenstadion) é a segunda casa do bom e fiel torcedor do Borussia Dortmund. Desde o último dia 2 de abril, o estádio já pode se considerar um quarentão - tal qual a “Muralha Amarela”, responsável por tardes e noites memoráveis nas quatro décadas passadas. À procura de mais um capítulo histórico, ela carrega as esperanças dos aurinegros na partida de volta das quartas de final da Liga dos Campeões, nesta terça-feira, às 15h45m (de Brasília), contra o Real Madrid. O GloboEsporte.com acompanhará o jogão em Tempo Real.
Já se sabe desde quarta-feira que uma classificação entraria no rol dos milagres. A vitória por 3 a 0 no Santiago Bernabéu deixou os merengues em situação confortabilíssima, ao ponto até mesmo de avançar às semifinais se perder por 4 a 1, resultado que contribuiu diretamente em sua eliminação para o próprio Borussia na semifinal da última temporada.
Torcida do Borussia Dortmund costuma promover espetáculos em jogos da Champions (Foto: AP)
carrasco de volta
Aquela partida é desde então sinônimo para Robert Lewandowski. Autor dos quatro gols, o centroavante polonês enfim distribuiu o seu grande cartão de visitas ao mundo. Se hoje é considerado um dos melhores de sua posição - e já tem até assinado um pré-contrato com o Bayern de Munique, para onde irá em julho -, muito se deve à atuação soberba daquele 24 de abril.
Pois Lewandowski é uma das novidades de um Borussia que luta, antes de tudo, por sua glória. Suspenso no jogo de Madri, ele teve de acompanhar a pesada derrota pela TV. Agora, quem sabe, poderá decidir no campo.
- Qualquer um que achar que nós podemos marcar quatro gols de novo contra o Real Madrid é louco, mas nós vamos tentar. Somos um time completamente diferente, mas sempre somos perigosos em Dortmund. Eu diria que temos chances mínimas. Vi o jogo de ida em casa e passei mal. Estive mais nervoso do que quando estou em campo. Não podia estar sentado no sofá – lamentou.
Lewandowski comemora o quarto gol do Borussia sobre o Real na temporada passada (Foto: Reuters)
málaga: como não lembrar?
Para o Borussia Dortmund, se apegar à nacionalidade do rival também é motivação. A Espanha é o país do Málaga, protagonista de um duelo que virou até seção no museu do clube. Depois de um 0 a 0 fora de casa, a Muralha Amarela (que leva o nome de Südtribüne por ser localizada no lado sul do estádio) foi ao delírio com os gols de Marco Reus e do brasileiro Felipe Santana nos acréscimos - os alemães contrariaram prognósticos e conseguiram a virada por 3 a 2 e a vaga para enfrentar o Real Madrid na campanha que terminou com o vice-campeonato em 2013.
- Não tem torcida igual. A atmosfera é o diferencial do Dortmund em relação aos demais. Hoje vivencio o rival de coração, que é o Schalke, mas não tenho problema algum em admitir que a Tribuna Sul é o que de melhor existe entre as torcidas na Alemanha ou até na Europa. Prova disso foi aquele jogo inesquecível contra o Málaga, quando fizemos dois gols em 69 segundos e viramos o placar. Foi o momento mais importante da minha carreira e é algo que eu levarei para sempre – disse Felipe Santana em entrevista ao GloboEsporte.com.
Felipe Santana recebe abraço de Jürgen Klopp após gol histórico contra o Málaga (Foto: Reuters)
Felipe, é claro, se lembra dos mínimos detalhes daquela partida. A noite mágica se iniciou com um belíssimo mosaico organizado pela torcida da Südtribüne, que recebe a cada jogo 25 mil pessoas, todas de pé - seja contra o Real Madrid ou diante do Eintracht Braunschweig, lanterna do Campeonato Alemão. Na imagem, um desenho animado surgiu à frente da taça da Liga dos Campeões com a mensagem “à procura do troféu perdido”. Um trabalho que exigiu horas e horas de dedicação dos organizadores.
- O visual impressiona bastante. Os jogadores mesmo comentaram sobre aquele mosaico antes do jogo. Quando a gente entrou em campo, com as crianças, elas ficaram malucas. “Olha lá, olha lá”, diziam. Estávamos na adrenalina da decisão, mas olhamos e suspiramos. Não tinha como não pensar num “nossa senhora”. Tinha que ser aquele dia. Essa vaga iria para a gente de qualquer jeito. Fico feliz por ter feito parte dessa história.
Estádio deverá receber grande público apesar da desvantagem do Borussia (Foto: EFE)
a muralha que faz gol
Felipe acredita que esta torcida tem o poder de ganhar jogos. Não necessariamente o desta terça - ele lamenta os muitos desfalques do time por lesão: Subotic, Schmelzer, Bender, Gündogan e Kuba, além de Kehl, suspenso. Mas mantém a convicção de que todos os detalhes construídos em torno da Muralha Amarela fazem dela uma intimidadora.
- Definitivamente ganha jogo. A torcida do Dortmund é diferente de todas, é imponente. Faz diferença atuar olhando para aquela tribuna. Isso já foi dito por muitos atletas na Bundesliga. E não importa se na Champions a capacidade é um pouco menor, pois o barulho é compensado. Isso faz com que a gente se mate lá dentro para vencer - completou.
Sginal Iduna Parkl é um símbolo da cidade de Dortmund (Foto: Agência Reuters)
Entre todas as ligas nacionais, o Borussia Dortmund é o dono da melhor média de público na temporada 2013/2014: leva 80.290 torcedores por jogo, quase 100% de ocupação no Signal Iduna Park. Não à toa o estádio é o maior ponto turístico da cidade industrial - e sem grandes atrações, é bem verdade. Desde a construção, em 1971 (inauguração em 1974), até a última reforma, antes da Copa do Mundo de 2006, tudo foi pensado e moldado de acordo com as características da torcida. Até mesmo casamentos e festas de aniversário podem ser comemorados por lá.
Recentemente, foi proposto alargar o túnel de entrada dos jogadores, para deixá-lo mais arejado. O técnico Jürgen Klopp foi radicalmente contra.
- Usei todo o meu poder para impedir que isso acontecesse. É como eu imagino um nascimento de um bebê. O canal é estreito e uma vez que você sai, você dá de cara com a energia, o êxtase e a alegria do grande mundo lá fora. É assim que funciona no nosso estádio.
Signal Iduna Park também é palco para casamentos (Foto: Divulgação)
cr7 fora do espetáculo?
Se faltam boas notícias ao desfalcadíssimo Borussia, ao menos do outro lado há um alento: o atacante Cristiano Ronaldo corre o risco de sequer entrar em campo. Recuperando-se de um problema no joelho esquerdo, o português deixou o treino do Real Madrid após 20 minutos na última segunda e passou a preocupar o técnico Carlo Ancelotti. Ele viajou com a delegação espanhola para a Alemanha, mas só irá a campo se estiver se sentindo 100%.
Caso não atue, Cristiano deverá dar lugar a Isco, como já aconteceu na goleada dos merengues sobre o Real Sociedad, por 4 a 0, fora de casa, no sábado, pelo Campeonato Espanhol. A estrela da companhia passaria a ser o galês Gareth Bale, autor de quatro gols nos últimos cinco jogos. No que depender do retrospecto recente do ex-jogador do Tottenham, Ancelotti não terá dúvidas sobre a classificação.
Cristiano Ronaldo não tem escalação confirmada para o duelo desta terça-feira (Foto: Reuters)
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O Borussia Dortmund tem 90 minutos para marcar quatro gols. Nós temos
90 minutos para fazer um – resumiu o italiano, ciente da larga vantagem
do Real.Confira as prováveis escalações:
Borussia Dortmund: Weidenfeller, Piszczek, Sokratis, Hummels e Durm; Jojic e Sahin (Kirch); Grosskreutz, Mkhitaryan e Reus; Lewandowski. Técnico: Jürgen Klopp.
Real Madrid: Casillas, Carvajal, Pepe, Sergio Ramos e Coentrão; Modric, Xabi Alonso e Di María; Bale, Benzema e Cristiano Ronaldo (Isco). Técnico: Carlo Ancelotti.
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