Brasileiro bebe muito veja o por que
Só mais um gole
Mesmo com vários problemas, muitas pessoas não deixam o vício do álcool. Conheça histórias de quem superou o problema
Era
só uma brincadeira de amigos. Foi assim que o mineiro Jarbas
Quintiliano, de 46 anos, começou a beber em bares quando ainda era um
adolescente de 16 anos. No início, o álcool trazia um efeito relaxante e
animava as conversas da turma.
No caso de Jocilene Do Rocio Silva, de
43 anos, de Curitiba, o álcool chegou após uma desilusão amorosa. Ela
tinha 25 anos quando se separou do primeiro marido. “Saía do trabalho e
ia direto para barzinhos. Bebia cerveja para me divertir e esquecer os
problemas e a solidão”, relembra ela.
Jarbas e Jocilene achavam que tinham o
controle da situação. Mas o álcool começou a modificar a vida deles. “No
começo eu dava risada, mas depois ficava bêbada, cheguei a perder os
sentidos e tive de ser carregada. No outro dia, vinha uma angústia, uma
tristeza, parecia que sempre faltava alguma coisa”, relata Jocilene, que
foi dependente de cerveja por 14 anos.
O excesso de álcool atrapalhava as
relações familiares de Jarbas. “Quando conheci minha esposa, eu já bebia
muito, mas o vício piorou com o tempo. Tomava cerca de um litro de
cachaça todos os dias e no fim de semana era pior, chegava a três
litros. Eu tinha um estoque em casa”, relembra Jarbas.
A cachaça provocava sensações de euforia
e irritação. “Eu ficava muito agressivo. Minha esposa reclamava e nós
começávamos a discutir. Cheguei a agredi-la fisicamente”, conta,
acrescentando que as filhas, Mariana e Marina, presenciavam tudo. Jarbas
teve problemas no trabalho e acredita que a esposa, Rita, desenvolveu
depressão por causa das brigas constantes. Mesmo com todos os
transtornos, ele permaneceu no ciclo da bebida por 16 anos.
Bebida à vontade
Só mais um gole. É assim que, de copo em
copo, o brasileiro está usando cada vez mais bebida alcoólica. O
consumo de álcool no Brasil já é superior à média mundial, segundo
informe publicado no último dia 12 pela Organização Mundial da Saúde
(OMS). Dados apontam que o consumo médio para indivíduos acima de 15
anos no Brasil é de 8,7 litros por ano por pessoa, enquanto a média
mundial é de 6,2 litros.
Em todo o mundo, 3,3 milhões de mortes
foram causadas em 2012 pelo uso exagerado do álcool, número maior do que
as mortes ligadas ao HIV, à violência e à tuberculose. O quadro
alarmante levou Oleg Chestnov, diretor-geral adjunto da OMS, a declarar:
“Devemos redobrar nossos esforços para proteger as pessoas das
consequências negativas do consumo de álcool para a saúde”.
Diferentemente da cocaína e do crack,
que são drogas ilegais, o álcool é liberado para o consumo da população e
pode ser encontrado em quase todos os lugares. “A droga lícita, como o
álcool, é a pior de todas porque ela está liberada. O álcool provoca
acidentes, brigas, destrói famílias e mata tanto quanto as drogas
ilegais”, alerta o bispo Rogério Formigoni, responsável pelo trabalho
que a Universal desenvolve contra a dependência de álcool e outras
drogas.
O próprio Formigoni já foi viciado em
álcool, cigarro e drogas como o crack. Hoje, ele usa a experiência para
ajudar pessoas que passam pelo mesmo problema. “O dependente promete que
não vai mais beber e, no dia seguinte, ele repete tudo de novo. Há uma
força maior, ele está dominado pelo vício. Ele precisa estar determinado
a mudar”, explica, ressaltando que o apoio de familiares também ajuda
nesse momento.
Fé e recuperação
Formigoni
conta que uma das dificuldades no tratamento de dependentes é que eles
não costumam admitir que enfrentam um problema. “O dependente não cai em
si. Ele diz que não é viciado mesmo quando já perdeu família, amigos,
emprego e sonhos”, afirma.
Ele ainda acrescenta que o trabalho de
profissionais da saúde é importante na recuperação, mas nada funciona se
o doente não quiser sair do alcoolismo. “Todo ser humano já nasce com
fé. Na Universal, nós procuramos ensinar ao indivíduo como ele pode
aplicar a própria fé para lutar contra o álcool sem desistir”,
justifica.
Foi com esse incentivo que Jarbas e
Jocilene conseguiram parar de beber. “Percebi que beber não era mais tão
divertido, eu tinha ressaca. Decidi parar, comecei a ir menos a bares,
não comprava mais cerveja. Mas a vontade de beber continuava. Na
Universal, eu pedia forças a Deus e ocupava meu tempo”, revela Jocilene.
Foram dez anos de tentativas até o dia
em que Jocilene colocou a última gota de álcool na boca. “Só parei mesmo
há quatro anos. Hoje eu gosto de viajar com meu marido, minha saúde
melhorou e perdi até o medo de dirigir”, conclui, garantindo que ela e o
marido, Luiz Sérgio, estão mais felizes.
Para Jarbas, o incentivo da esposa foi
fundamental para a mudança. “Jogamos fora as garrafas de cachaça que
havia em casa e comecei a me afastar de amigos que bebiam. Tentei fugir
dos lugares em que o álcool estava”, fala. Ele procurou refúgio em
reuniões da Universal. “Eu ouvia palavras de incentivo para não beber.
Consegui parar em apenas quatro meses. Meu casamento foi restaurado, as
brigas acabaram, minhas filhas pararam de sofrer e consegui abrir minha
construtora”, finaliza o agora empresário Jarbas.
Jovens ignoram riscos
Formaturas de faculdade, aniversários,
festas e churrasco com os amigos: para boa parte dos brasileiros, esses
eventos só ficam completos se tiverem cerveja gelada e vodca à vontade.
Ambientes
regados a álcool começaram a fazer parte da vida do jovem Matheus
Soares quando ele tinha apenas 18 anos. “Beber era fundamental nas
baladas. Comecei com cerveja, depois bebia vodca e uísque também. Todos
bebiam e sempre tinha alguém que passava dos limites e brigava. Eu via
muitas pessoas vomitando e casais discutindo”, descreve.
“A bebida promete bem- estar e amizades,
mas percebi que eu me alimentava mal, ficava com olheiras, não dormia
direito. A bebida não caía bem. Decidi cuidar da minha saúde”, diz,
justificando a decisão que o fez se afastar do álcool. Hoje, Matheus, de
22 anos, faz faculdade de Educação Física, trabalha em uma academia e
gosta de passear com a namorada. “Não preciso mais de nenhuma substância
para me divertir, só de boa companhia”, resume.
Fonte Folha Universal