produtos químicos em alimentos: O pior dos piores
Se o alimento não é nutritivo, substantivo e rico em nutrientes, é provável que a sua saúde é prejudicada. Imagem: nutriswiss.ch |
Na primeira parte desta série, fiz uma descrição das duas definições
principais da palavra “alimento”, que a maioria das pessoas usam para
guiar os seus hábitos alimentares. Também comecei a estabelecer as
bases para uma descrição detalhada dos ingredientes químicos mais
nocivos que estão presentes em nossos “alimentos”, apesar de que não
deveriam estar.
Como explicado no primeiro artigo,
alimento é algo que “nutre, sustenta ou suplementa” o corpo com
nutrientes que necessita para se manter saudável. Outras vezes,
alimento é entendido como “o material constituído essencialmente de
proteínas, carboidratos e gorduras utilizado no corpo de um organismo
para sustentar seu crescimento, reparação e processos vitais para
fornecer energia.” A primeira e não a segunda definição deve ser usada
para orientar nossos hábitos alimentares. Por quê? Porque as fontes de
“alimento” podem não ter os nutrientes que nosso corpo precisa para ser
saudável.
Nem todas as proteínas, carboidratos e gorduras são iguais. Apresentei a
idéia de que a natureza e só a natureza tem a capacidade de criar
alimentos com quantidades adequadas de proteínas, carbohidratos e
gorduras apropriadas para nutrir, sustentar e dar ao nosso corpo os
nutrientes necessários e que qualquer coisa feita em um laboratório
para ser embalado como “alimento” nunca pode substituir a sabedoria da
natureza.
É muito importante conhecer e identificar os ingredientes presentes nos
produtos industrializados que são considerados como alimento. Esta
tarefa não é fácil, pois a maioria dos ingredientes dos produtos
industrializados não são naturais. Você precisa fazer um esforço extra
para aprender como e por que os alimentos que comemos afetam nossa
saúde e como podemos ajudar a prevenir doenças e desfrutar de uma vida
saudável.
Embora o número de químicos utilizados nos produtos industriais é
imenso, há alguns que são mais comumente usados e, portanto,
representam uma ameaça maior para a nossa saúde. Então, vamos nos
concentrar na lista dos químicos mais comuns que são usados nos
produtos que normalmente passam por comida.
O nome do primeiro produto químico que deve ser evitado é bisfenol A,
também conhecido como BPA. Este ingrediente é um composto químico
sintético a base de carbono que é usado para fazer produtos de consumo
como garrafas de água, equipamentos esportivos, CDs, DVDs, resinas,
tubulações de água, produtos enlatados, papel térmico para recibos de
cartão de crédito e muitos outros. Como mencionado no primeiro artigo, o
BPA causa desregulação endócrina. Isso significa que é uma substância
com a capacidade de interferir no sistema endócrino do corpo. O sistema
endócrino é responsável pela regulação e gestão de secreção interna de
hormônios como o estrogênio.
Desreguladores endócrinos têm efeitos adversos no desenvolvimento, na
reprodução e nos sistemas neurológico e imunológico em humanos e
animais selvagens. Nos seres humanos, disruptores endócrinos tais como
BPA imitam hormônios de origem natural e, por conseguinte, afetam de
forma negativa processos celulares importantes, tais como o
metabolismo, reprodução, desenvolvimento sexual, homeostase mineral,
batimentos cardíacos e a digestão.
A exposição humana ao BPA ocorre através do contato direto com as mãos.
O principal problema é que o BPA tem propriedades semelhantes aos
hormônios, em outras palavras, pode passar como um imitador de
estrogênio, por exemplo. Segundo a Dra. Lori Cooper, BPA é considerado
um “estrogênio estrangeiro” e, como tal, pode perturbar “a função
reprodutiva, a saúde óssea, a síntese protéica, o metabolismo do
colesterol, saúde mental, desejo sexual e muitos outros sistemas.”
Metabólitos do BPA podem ser potencialmente xenoestrógenos mais fortes
do que o BPA. BPA adere-se a várias células, como um interruptor de
ativação e desencadeia muitas das mesmas mudanças químicas que ocorrem
naturalmente no corpo. Embora inicialmente pensou-se que o BPA agia
apenas através de proteínas celulares chamadas receptores de estrogênio
(que funcionam como interruptores de sinalização nas células), também
aprendemos que o BPA pode exercer seus efeitos estrogênicos através de
outros receptores .
Um estudo realizado pela Agência Nacional de Alimentos dos Estados Unidos (FDA) descobriu que o BPA pode ser um perigo para os fetos, bebês e crianças. BPA é conhecido por perturbar a função da tireóide, aumentar o risco de câncer, promover o crescimento anormal de células, o crescimento anormal da próstata e afetar negativamente o sistema reprodutivo
e o comportamento sexual. Enquanto os estudos do governo e da
indústria alimentar dizem que pequenas quantidades de BPA são
inofensivas aos seres humanos, estudos como o do INSERM – Institut
National de la Santé et de la Recherche Médicale – mostram que mesmo a
exposição moderada ao BPA “é suficiente para produzir uma reação
negativa no testículo humano.”
No entanto, os danos causados pelo BPA não terminam aí. Este produto
químico é também uma preocupação pela sua relação com a asma e
problemas cardíacos. Um estudo em 2010 por uma equipe de pesquisadores
da Universidade de Columbia descobriu que a exposição ao BPA na
infância pode desencadear ataques de asma,
um resultado que os cientistas têm reproduzido em testes de
laboratório. “Vimos um aumento do risco de asma quando a pessoa foi
exposta a baixas doses de BPA”, disse a Dra. Kathleen Donohue, da
Universidade de Columbia. “Eles mediram o BPA em idades diferentes e,
mesmo assim, encontraram associações consistentes”, acrescentou. Apesar
destas descobertas, alguns pesquisadores dizem que mais estudos são
necessários para encontrar um relação 100% conclusiva entre BPA e asma.
Quando se trata de problemas de coração, o BPA também é uma preocupação
séria. Este composto químico está ligado a arritmias cardíacas e
problemas reprodutivos em fêmeas. Segundo um relatório da revista ScienceNews,
os efeitos negativos do BPA são conhecidos pelo menos desde 1938.
Naquela época, os pesquisadores descobriram que o BPA pode provocar
mudanças biológicas geralmente associadas com ação estrogênica. Um dos
principais efeitos do BPA em humanos é a reprogramação de genes de
fertilidade. “Quando se trata do coração da mulher, os casos em mulheres
adultas pré-menopausicas podem causar estragos … há sensibilidades
únicas para arritmias durante a gravidez”, diz o professor Scott
Belcher, da Universidade de Cincinnati.
O debate sobre os efeitos do BPA em humanos e animais é focado nos
níveis de exposição, tanto externos quanto internos. Embora estudos do
governo e da indústria sugerem que pequenas quantidades podem não
afetar negativamente a saúde dos indivíduos, estudos mais recentes
dizem o contrário. Mas há uma outra salva neste debate. A questão é se
as medidas tomadas pelos governos e estudos feitos pela indústria de
alimentos estão realmente medindo BPA corretamente e se a exposição ao
BPA é tão pequena como alguns estudos sugerem.
Um novo estudo conduzido por Frederick vom Saal, da Universidade de
Missouri- Columbia tem levantado uma questão que nem os governos nem as
empresas que utilizam o BPA em seus produtos alimentares querem ouvir:
Os seres humanos estão expostos ao BPA mais do que é medido e até
mesmo em baixos níveis o BPA pode causar danos. Mesmo pequenos níveis
de exposição ao BPA, as observações de Vom Saal determinaram parecem
ser prejudiciais.
Um estudo em 2010 pela EPA dos EUA informou
que mais de um milhão de quilos de BPA são liberados no meio ambiente a
cada ano só nos Estados Unidos. Vários estudos descobriram que o BPA
“afeta o crescimento, reprodução e desenvolvimento em organismos
aquáticos.” Assim, o dano causado pelo BPA não está limitado a humanos.
Peixes de água doce são algumas das espécies mais sensíveis. “A
evidência dos efeitos relacionados com o sistema endócrino de peixes,
invertebrados aquáticos, anfíbios e répteis ocorreram em níveis
ambientalmente inferiores aos necessários para observar uma exposição
aguda e uma toxicidade alta”, diz um estudo realizado pela Agência de
Proteção Ambiental dos EUA. “Existe uma ampla variação dos valores
relatados para os efeitos relacionados com o sistema endócrino, mas
muitos caem na gama de 1 ug / L de 1 mg / L. Isto é 1 micrograma por
litro a 1 miligrama por litro de exposição ao BPA.
Mesmo a menor sugestão de que baixos níveis de exposição ao BPA de
alguma forma ameaçam a saúde dos seres humanos e o meio ambiente deve
incentivar os consumidores, a indústria e o governo a erradicar o uso
de BPA. Até que mais estudos provem conclusivamente o que muitos
estudos têm mostrado – que o bisfenol A é uma ameaça para a saúde humana e é uma das muitas substâncias químicas que devemos evitar – o BPA deve ser proibido em todos os produtos alimentares como medida de precaução.
Em nosso terceiro artigo da série Realidade Química, vou
continuar mostrando o que a ciência nos diz sobre os ingredientes
utilizados pela indústria de alimentos em produtos industriais e como
eles afetam o nosso bem-estar devido a sua bioacumulação em nossos
corpos através do consumo e / ou a exposição contínua.
Para mais informações sobre o BPA e outros desreguladores endócrinos, por favor leia a seguinte documentação:
Fonte: Real Agenda