Panorama Copa:Governo paga viagem para jornalistas gringos falarem bem do Brasil, mas o tiro saiu pela culatra
Para divulgar os destinos turísticos de três cidades-sede da Copa do
Mundo e melhorar a imagem do Mundial e do Brasil no exterior, o governo
federal resolveu trazer seis jornalistas estrangeiros para uma viagem de
luxo ao país em março, mas o tiro saiu pela culatra -- o grupo de
correspondentes, todos de grandes veículos da imprensa internacional,
sofreu uma tentativa de assalto no Rio de Janeiro. Além da capital
fluminense, os jornalistas da Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos
conheceram Manaus e Fortaleza.
Tudo havia corrido bem até a parada final do roteiro de sete dias (do dia 16 ao dia 22 de março) no Rio de Janeiro. Em sua primeira noite na cidade, os jornalistas resolveram ficar um pouco mais no restaurante em que jantavam e depois voltar andando pela praia de Ipanema até o hotel onde estavam hospedados, sem a companhia de representantes do governo brasileiro.
No meio do caminho, por volta das 2h, foram abordados por um grupo de adolescentes armados com facas, que prontamente começaram a arrancar os relógios dos pulsos e enfiar as mãos nos bolsos dos jornalistas enquanto os rendiam. Assustados, os estrangeiros começaram a gritar e foram socorridos por transeuntes, que se aproximaram da cena e espantaram os ladrões, que fugiram sem levar nada.
A viagem foi uma iniciativa da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) com a Secretaria de Comunicação Internacional da Presidência da República. Este tipo de ação é comum mundo afora. Mas neste caso, o esforço de propaganda e divulgação internacional do Brasil e da Copa têm resultados questionáveis, considerando o susto no Rio de Janeiro e o que foi publicado no exterior sobre a viagem.
A aventura da tentativa de assalto acabou integrando a reportagem que o jornalista Ian Hebert escreveu para o jornal inglês "The Independent" no dia 23, com o título "Copa 2014: é caos no Brasil, mas não entre em pânico". A reportagem, bem-humorada, além de falar sobre a tentativa de assalto, versa sobre o atraso na entrega dos estádios e os problemas de infraestrutura nacionais, como demoras e caos nos aeroportos e a debilidade dos sistemas de transporte público.
Em entrevista ao UOL Esporte, o repórter inglês narrou o incidente: "Depois do jantar, resolvemos andar do restaurante até a praia, que era um percurso de três minutos", diz ele. "A rua estava deserta. Sem que percebêssemos, um grupo de jovens nos abordou, já pedindo dinheiro e celulares. Houve uma discussão, começamos a gritar e chamar a atenção. Quando eu já estava tirando o meu relógio, um casal se aproximou também aos gritos, e os ladrões saíram correndo com medo".
Apesar do ocorrido, Herbert afirmou que não ficou com uma má impressão do Brasil. "Não gostaria de deixar como marca desta nossa viagem este episódio lamentável. Nós fomos muito bem tratados no Brasil. Conhecemos lugares e cidades maravilhosas", disse.
Sobre o que espera da Copa, Herbert diz: "Turistas europeus poderão ficar irritados com filas em aeroportos ou falta de estrutura em transportes, mas é preciso entender que o Brasil é um país em desenvolvimento, que está se esforçando para oferecer uma estrutura de países desenvolvidos nesta Copa".
O jornalista James Riach, do prestigiado jornal inglês "The Guardian", publicou reportagem no dia 22 sobre a experiência no Brasil, com o título "O calor da Copa do Mundo está valendo para a Inglaterra enquanto se prepara para a Floresta Amazônica". No texto, o jornalista fala da surpresa de encontrar uma cidade grande no meio da floresta -- Manaus -- e foca atenção nas relações históricas entre a capital do Amazonas e os ingleses, além do calor que a esquadra britânica enfrentará por lá quando for enfrentar a Itália na Arena Amazonas, pela primeira fase do mundial da Fifa.
No final do texto, também há ressalvas sobre os atrasos e gargalos de infraestrutura do Brasil.
Além dos dois, participaram da "press trip" (como são conhecidas as viagens de divulgação para jornalistas) integrantes dos diários alemães "Frankfurter Allgemeine Zeitung" e "Die Welt". Dos Estados Unidos, vieram repórteres da rede ESPN e do jornal Miami Herald. Até esta segunda-feira (24), ainda não havia sido publicada nenhuma reportagem nestes respectivos veículos de imprensa sobre a viagem.
Custo x benefício
Questionada pela reportagem sobre qual o custo total da viagem -- que envolveu hotéis cinco estrelas, restaurantes caros e famosos, passeios turísticos e até vôos de helicóptero, além das passagens aéreas -- a Embratur, subordinada ao Ministério do Turismo, recusou-se a responder esta pergunta.
No Portal da Transparência de gastos do governo federal, existe o registro de repasses no valor total de R$ 922 mil este ano para a Ogilvy & Mathers do Brasil Comunicação, que organiza as viagens de jornalistas estrangeiros ao Brasil para a Embratur. Lá, o gasto é explicado genericamente como "Apoio à realização da Copa do Mundo Fifa 2014" e "promoção turística do Brasil no exterior", sem especificação.
Como essa é a primeira viagem do tipo este ano promovida pela autarquia, o passeio para os seis jornalistas estrangeiros custou quase R$ 1 milhão aos cofres da União. Confrontada com essa informação a Embratur afirma apenas, por meio de sua assessoria de imprensa, que o custo foi menor que este. Apesar disso, não informa o preço oficial. No dia 14, o UOL Esporte revelou que a empresa em questão é ligada ao ex-jogador Ronaldo, membro do COL (Comitê Organizador Local), que tem a responsabilidade de coordenar a organização da Copa no Brasil. Desde 2010, a Ogilvy já recebeu pelo menos R$ 33 milhões da Embratur. No ano passado, organizou uma viagem pelo Brasil para 29 jornalistas estrangeiros, com o mesmo objetivo de divulgar as cidades-sede da Copa.
"A Copa é uma ótima oportunidade para apresentarmos os destinos turísticos brasileiros, além das próprias cidades-sede", destaca o diretor de Marketing da Embratur, Walter Vasconcelos. "Durante as visitas, os jornalistas conhecem os preparativos para a Copa e também têm oportunidade de descobrirem as belezas e atrações que cercam as sedes da Copa", afirmou em material de divulgação sobre a viagem distribuído à imprensa nacional.
Aiuri Rebello e Vinícius Segalla
UOL
Fontes: Folha Política , UOL
Tudo havia corrido bem até a parada final do roteiro de sete dias (do dia 16 ao dia 22 de março) no Rio de Janeiro. Em sua primeira noite na cidade, os jornalistas resolveram ficar um pouco mais no restaurante em que jantavam e depois voltar andando pela praia de Ipanema até o hotel onde estavam hospedados, sem a companhia de representantes do governo brasileiro.
No meio do caminho, por volta das 2h, foram abordados por um grupo de adolescentes armados com facas, que prontamente começaram a arrancar os relógios dos pulsos e enfiar as mãos nos bolsos dos jornalistas enquanto os rendiam. Assustados, os estrangeiros começaram a gritar e foram socorridos por transeuntes, que se aproximaram da cena e espantaram os ladrões, que fugiram sem levar nada.
A viagem foi uma iniciativa da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) com a Secretaria de Comunicação Internacional da Presidência da República. Este tipo de ação é comum mundo afora. Mas neste caso, o esforço de propaganda e divulgação internacional do Brasil e da Copa têm resultados questionáveis, considerando o susto no Rio de Janeiro e o que foi publicado no exterior sobre a viagem.
A aventura da tentativa de assalto acabou integrando a reportagem que o jornalista Ian Hebert escreveu para o jornal inglês "The Independent" no dia 23, com o título "Copa 2014: é caos no Brasil, mas não entre em pânico". A reportagem, bem-humorada, além de falar sobre a tentativa de assalto, versa sobre o atraso na entrega dos estádios e os problemas de infraestrutura nacionais, como demoras e caos nos aeroportos e a debilidade dos sistemas de transporte público.
Em entrevista ao UOL Esporte, o repórter inglês narrou o incidente: "Depois do jantar, resolvemos andar do restaurante até a praia, que era um percurso de três minutos", diz ele. "A rua estava deserta. Sem que percebêssemos, um grupo de jovens nos abordou, já pedindo dinheiro e celulares. Houve uma discussão, começamos a gritar e chamar a atenção. Quando eu já estava tirando o meu relógio, um casal se aproximou também aos gritos, e os ladrões saíram correndo com medo".
Apesar do ocorrido, Herbert afirmou que não ficou com uma má impressão do Brasil. "Não gostaria de deixar como marca desta nossa viagem este episódio lamentável. Nós fomos muito bem tratados no Brasil. Conhecemos lugares e cidades maravilhosas", disse.
Sobre o que espera da Copa, Herbert diz: "Turistas europeus poderão ficar irritados com filas em aeroportos ou falta de estrutura em transportes, mas é preciso entender que o Brasil é um país em desenvolvimento, que está se esforçando para oferecer uma estrutura de países desenvolvidos nesta Copa".
O jornalista James Riach, do prestigiado jornal inglês "The Guardian", publicou reportagem no dia 22 sobre a experiência no Brasil, com o título "O calor da Copa do Mundo está valendo para a Inglaterra enquanto se prepara para a Floresta Amazônica". No texto, o jornalista fala da surpresa de encontrar uma cidade grande no meio da floresta -- Manaus -- e foca atenção nas relações históricas entre a capital do Amazonas e os ingleses, além do calor que a esquadra britânica enfrentará por lá quando for enfrentar a Itália na Arena Amazonas, pela primeira fase do mundial da Fifa.
No final do texto, também há ressalvas sobre os atrasos e gargalos de infraestrutura do Brasil.
Além dos dois, participaram da "press trip" (como são conhecidas as viagens de divulgação para jornalistas) integrantes dos diários alemães "Frankfurter Allgemeine Zeitung" e "Die Welt". Dos Estados Unidos, vieram repórteres da rede ESPN e do jornal Miami Herald. Até esta segunda-feira (24), ainda não havia sido publicada nenhuma reportagem nestes respectivos veículos de imprensa sobre a viagem.
Custo x benefício
Questionada pela reportagem sobre qual o custo total da viagem -- que envolveu hotéis cinco estrelas, restaurantes caros e famosos, passeios turísticos e até vôos de helicóptero, além das passagens aéreas -- a Embratur, subordinada ao Ministério do Turismo, recusou-se a responder esta pergunta.
No Portal da Transparência de gastos do governo federal, existe o registro de repasses no valor total de R$ 922 mil este ano para a Ogilvy & Mathers do Brasil Comunicação, que organiza as viagens de jornalistas estrangeiros ao Brasil para a Embratur. Lá, o gasto é explicado genericamente como "Apoio à realização da Copa do Mundo Fifa 2014" e "promoção turística do Brasil no exterior", sem especificação.
Como essa é a primeira viagem do tipo este ano promovida pela autarquia, o passeio para os seis jornalistas estrangeiros custou quase R$ 1 milhão aos cofres da União. Confrontada com essa informação a Embratur afirma apenas, por meio de sua assessoria de imprensa, que o custo foi menor que este. Apesar disso, não informa o preço oficial. No dia 14, o UOL Esporte revelou que a empresa em questão é ligada ao ex-jogador Ronaldo, membro do COL (Comitê Organizador Local), que tem a responsabilidade de coordenar a organização da Copa no Brasil. Desde 2010, a Ogilvy já recebeu pelo menos R$ 33 milhões da Embratur. No ano passado, organizou uma viagem pelo Brasil para 29 jornalistas estrangeiros, com o mesmo objetivo de divulgar as cidades-sede da Copa.
"A Copa é uma ótima oportunidade para apresentarmos os destinos turísticos brasileiros, além das próprias cidades-sede", destaca o diretor de Marketing da Embratur, Walter Vasconcelos. "Durante as visitas, os jornalistas conhecem os preparativos para a Copa e também têm oportunidade de descobrirem as belezas e atrações que cercam as sedes da Copa", afirmou em material de divulgação sobre a viagem distribuído à imprensa nacional.
Aiuri Rebello e Vinícius Segalla
UOL
Fontes: Folha Política , UOL