Marina Silva se apoiando com gente que acaba com a família
Vão votar nela ainda? Depois não digam que não avisamos: Programa de governo de Marina defende que casamento gay vire lei
O programa de governo apresentado nesta sexta-feira (29) pela
candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, afirma que, se eleita, a
ex-senadora apoiará a aprovação de propostas que tramitam no Congresso
Nacional para garantir o casamento civil igualitário, que permite a
união entre pessoas do mesmo sexo.
Atualmente, uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
órgão de controle externo das atividades do Judiciário, obrigou todos
os cartórios do país a cumprirem a decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF), de maio de 2011, de realizar a união estável de casais do mesmo
sexo. Além disso, obrigou a conversão da união em casamento e também a
realização direta de casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Porém,
não há nenhuma lei no país que regulamente o assunto.
Com 242
páginas, o programa de governo de Marina está dividido em seis eixos
principais. Na parte que trata sobre Cidadania, a candidata do PSBx ao
Palácio do Planalto detalhou propostas de combate ao preconceito contra o
segmento LGBT. Ao destacar sugestões, o programa diz que a candidata
apoiará a aprovação do casamento homossexual no Legislativo.
"Apoiar
propostas em defesa do casamento civil igualitário, com vistas à
aprovação dos projetos de lei e da emenda constitucional em tramitação,
que garantem o direito ao casamento igualitário na Constituição e no
Código Civil", diz o conjunto de propostas do PSB para a disputa
presidencial.
Ao
ser questionada no evento partidário sobre se apoiaria projetos de lei
que garantam o direito de casamento entre pessoas do mesmo sexo, Marina
Silva disse respeitar e defender o Estado Laico e afirmou que, como
presidente, terá o compromisso de assegurar direitos civis para "todas
as pessoas".
“O nosso
compromisso é que os direitos civis das pessoas sejam respeitadas.
Queremos o respeito através do Estado laico tanto para os que creem
quanto os que não creem. As pessoas têm sua liberdade individual e essa
liberdade individual deve ser respeitada", disse.
Marina
completou dizendo ter "a clareza e a defesa do Estado laico". "O Estado
laico é uma contribuição dos cristãos protestantes, que durante muito
tempo foram perseguidos. É uma proteção dos que não creem, para que não
lhes seja imposto credo religioso. E dos que creem, para que possam
professar sua fé", completou.
A socióloga
Neca Setúbal, umas das coordenadoras do programa de governo do PSB,
destacou que uma eventual gestão da ex-senadora terá o compromisso de
garantir todos os direitos civis aos homossexuais.
"Nosso
compromisso é com o combate radical ao preconceito contra a comunidade
LGBT. Vamos defender os direitos dessa população. Direito à saúde,
oportunidades e direitos civis da população LGBT", anunciou Neca,
gerando aplausos da plateia.
Ao final da
solenidade de lançamento do programa de governo, o coordenador das
propostas eleitorais de Marina, o ex-deputado Maurício Rands (PSB-PE), disse que a candidata, apesar de ser evangélica, vai defender o direito de casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
"Ela será
presidente de um Estado laico. Vai governar para todos os brasileiros.
Vamos defender os direitos da comunidade LGBT, inclusive o casamento
civil. Se a pessoa quiser casar, que case", enfatizou.
Indagado
sobre se um eventual governo de Marina Silva se dedicaria a aprovar uma
lei que garanta o direito de homossexuais se casarem, Rands foi
taxativo: "A forma será discutida depois. Mas é um compromisso muito
forte com a comunidade LGBT."
Casamento gay no Congresso
Atualmente,
há 17 projetos em tramitação no Congresso Nacional tratando das relações
entre homossexuais. Dessas propostas, 16 estão sob análise da Câmara
dos Deputados e uma, do Senado, este de autoria da ministra da Cultura,
Marta Suplicy, histórica defensora do casamento entre pessoas do mesmo
sexo.
Um dos
projetos apresentados na Câmara é de autoria do ex-deputado federal
Maurício Rands, atual coordenador do programa de governo de Marina Silva.
Sua proposta, apresentada em 2005, permite que companheiros
homossexuais sejam incluídos como dependentes de segurados do INSS.
Outros deputados também já tentaram criar dispositivos para facilitar a
união gay, como Jean Wyllys (PSOL-RJ), José Genoino (PT-SP) e Clodovil
Hernandes (PTC-SP).
Por outro
lado, há três projetos que pedem a revisão da decisão do STF que
reconheceu como entidade familiar a união entre pessoas do mesmo sexo,
apresentadas pelos deputados João Campos (PSDB-GO), Arolde de Oliveira
(PSD-RJ) e Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), integrantes da bancada
evangélica. Feliciano, que gerou protestos de militantes de movimentos
sociais na época em que presidiu a Comissão de Direitos Humanos da
Câmara, também apresentou projeto que convoca plebiscito sobre o
“reconhecimento legal da união homossexual como entidade familiar”.
'Convicções religiosas'
Em 2010, ano
em que disputou pela primeira vez a Presidência, Marina afirmou que, na
opinião dela, o casamento é um "sacramento" e que aceitar a união entre
pessoas do mesmo sexo iria contra suas convicções religiosas. Apesar disso, na ocasião, ela se disse a favor da “união de bens” entre homossexuais.
“Eu defendo
os direitos civis da comunidade gay assim como eu tenho direito. Eu
tenho direito de ter um plano de saúde com o meu companheiro. Na
herança, às vezes as pessoas se dedicam a vida toda para conseguir um
patrimônio e quando morre o companheiro lá vai a família tomando tudo.
Isso é injusto”, comentou Marina durante a campanha presidencial de
2010.
Produtores rurais
Com
histórico de embates com representantes do agronegócio, Marina Silva
afirmou, durante seu discurso no evento de lançamento de seu programa de
governo, que não tem "preconceito" contra produtores rurais. Ela e o
candidato a vice-presidente na chapa do PSB, Beto Albuquerque (PSB-RS),
aproveitaram a solenidade para tentar atrair os eleitores do campo que
temem que as ideias ambientalistas da candidata sejam prejudiciais ao
setor.
“Muita gente
pensa que temos preconceito com agricultores. Muito pelo contrário”,
disse Marina, destacando que pretende modernizar a infraestrutura de
transporte para garantir “meios de escolar a produção e aumentar a
eficiência”.
Ela
ressaltou, contudo, que é preciso garantir sustentabilidade para que os
produtos produzidos no Brasil sejam adquiridos em mercados preocupados
com o meio ambiente, como alguns países da Europa.
“Não há como
fugir do desafio do século 21. Não encontro nenhum agricultor que me
diga: queremos o direito de desenvolver sem requisitos ambientais. Não
há como ter inserção nos mercados qualificados, nos grandes centros, sem
sermos capazes de responder aos requisitos ambientais e sociais”,
ponderou.
Beto
Albuquerque também ressaltou que o programa de governo do PSB assume
“compromissos com pequenos e grandes agricultores”. Ele usou seu
discurso para criticar declaração do atual vice-presidente da República,
Michel Temer, em Porto Alegre, de que a ex-senadora estaria se
comportando com “autoritarismo” por “não querer trabalhar com os
partidos”.
“Eu diria
que autoritários são aqueles que querem governar só com os partidos, sem
o povo. Não podem ser autoritários aqueles que chamam o povo para fazer
governo. Autoritários são aqueles que fazem acordos para ter minutos e
segundos de propaganda de televisão”, disse Albuquerque.
Segundo ele,
a chapa formada com Marina Silva é “a expressão da verdadeira
democracia”. “Nosso governo não será analógico, será on-line, digital.
Diferente das atuais instituições que demoram para responder aos anseios
da população.”
Eduardo Campos
Marina Silva
chegou ao evento partidário acompanhada de seu candidato a vice e do
presidente nacional do PSB, Roberto Amaral. Ao entrar no auditório, ela
foi recebida pela plateia aos gritos de "Eduardo, presente. Marina,
presidente!".
A cerimônia
teve início com um minuto de silêncio em homenagem a Eduardo Campos,
morto em um acidente aéreo, no último dia 13, em meio à campanha.
Os seis
pontos do projeto de Marina para a Presidência foram apresentados pelos
coordenadores do texto, o ex-deputado Maurício Rands e Neca Setubal,
herdeira do banco Itaú e braço-direito da ex-senadora.
Recessão técnica
Marina Silva também citou o quadro econômico do Brasil. Nesta sexta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a economia brasileira encolheu 0,6% no segundo trimestre deste ano, na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (29) pelo
“O que
queremos com esse programa [de governo] é que o Brasil, de fato, possa
ser economicamente próspero. É lamentável verificar que, por dois
semestres consecutivos, o Brasil está com crescimento que nos leva a uma
situação de muita dificuldade”, disse.
A candidata
prometeu, se vencer a eleição em outubro, reverter esse cenário de queda
da economia, com “investimentos feitos da forma correta, na
infraestrutura física e humana".
'Brasil de faz de conta'
A
presidenciável do PSB também criticou a presidente Dilma Rousseff,
dizendo que a propaganda eleitoral do PT quer mostrar um Brasil de “faz
de conta”.
“É o atraso
na política que nos impede de corrigir os erros, que nos impede de
corrigir os novos desafios. Uma coisa importante é reconhecer que temos
problema. Eu fico vendo os programas eleitorais do governo e não
encontro [na vida real] esse Brasil colorido, onde tudo já foi
resolvido, onde as pessoas vivem em um mundo de faz de conta”, disse.
“Nós
precisamos encarar da seguinte forma: O que está bom, vamos manter. O
que está errado, vamos corrigir”, completou a candidata.
Base no Congresso
A
ex-senadora também respondeu a perguntas de jornalistas sobre como ela
formará um base de apoio no Congresso Nacional para aprovar projetos, se
for eleita. A candidata tem criticado ao longo da campanha as alianças
do atual governo com políticos tradicionais, sobretudo do PMDB.
Marina
ressaltou que buscará dialogar com os melhores quadros de todos os
partidos e citou os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"As pessoas
pensam que a base de sustentação é aderir de forma acrítica. [...]
Pretendemos, sim, conversar com Lula, conversar com o Fernando Henrique.
Pode ter certeza de que vai ser mais fácil que conversar com Sarney,
Renan e ficar refém do PMDB", disse a presidenciável.
* Colaborou Priscilla Mendes
G1