Turquia apoia ISIS para eliminar Assad
Hesitação da Turquia, que é membro da OTAN, levanta questões sobre seus motivos
F.
Michael Maloof
WASHINGTON, EUA — Tem havido uma
crescente preocupação com a falta de participação da Turquia — um membro da
Organização do Tratado do Atlântico Norte — na coalizão liderada pelos Estados
Unidos para atacar o ISIS, mas a razão para a Turquia não querer participar se
tornou mais evidente.
O presidente Obama e o presidente turco Erdogan |
No entanto, os diplomatas foram
libertos em circunstâncias misteriosas. O ISIS diz que eles foram trocados por
180 combatentes do ISIS, mas as autoridades turcas nem confirmam e nem negam a
alegação.
Na recente reunião de Paris das
potências ocidentais para discutirem como derrotar o ISIS, o ministro turco das
Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, deixou claro que a prioridade da Turquia não era a eliminação do ISIS, mas derrubar o
governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Segundo fontes bem informadas,
Cavusoglu acusou que Assad era o responsável pela criação do ISIS. A única
maneira de eliminar o grupo jihadista sunita extremista, disse ele, era
eliminar as suas causas profundas, citando a necessidade de um governo completo
no Iraque e a derrubada de Assad como prioridades necessárias.
Problema do Curdistão
Além disso, a Turquia vem buscando que
o ISIS cuide de outro problema que, dizem as fontes, é mais crucial para o
governo turco do que o grupo jihadista sunita. A preocupação gira em torno do
Partido do Trabalhadores do Curdistão (conhecido pela sigla PKK) que foi
declarado ilegal. Historicamente, o PKK tem buscado uma parte da Turquia para
formar o país independente do Curdistão.
Os curdos têm procurado esculpir
seu próprio país a partir da parte oriental da Turquia, do nordeste da Síria,
do norte do Iraque e do noroeste do Irã.
Membros do PKK têm deixado a
Turquia para se juntarem aos curdos no Iraque para combaterem o ISIS, que
procura tomar o seu território e junto com isso a produção de petróleo e
refinarias, especialmente em torno de Kirkuk.
Fontes dizem que os turcos
acreditam que a coalizão contra o ISIS não só irá dar uma nova legitimidade
para Assad, mas irá capacitar o PKK como parte da coalizão.
Os
EUA começaram a fornecer armas aos curdos iraquianos para lutarem contra o ISIS
e defenderem seu território e recursos, um acontecimento que está causando
tensão nas relações entre EUA e Turquia.
Existem
alguns relatos não confirmados de que a Turquia tem fornecido armas ao ISIS
para lutarem contra os curdos. Um relatório disse que um trem da Turquia estava
carregado de munições e armas para o ISIS para sitiar a Kobane, uma cidade
curda perto de Aleppo, na Síria. Até o momento, no entanto, o governo turco não
negou tal afirmação.
Perante a persistência de guerra do
governo turco com o PKK, Cemil Bayik, um alto comandante do PKK, disse que o
governo turco tinha "eliminado" as condições de um acordo de
cessar-fogo mútuo de 18 meses. Como consequência, iria "intensificar a sua
luta em todas as áreas e por todos os meios possíveis".
Se isso ocorrer, o governo turco
poderia procurar o ISIS para ajudar a eliminar o seu problema com o PKK.
"O que surgiu é que a Turquia
continua suas relações com Daesh e que a Turquia não vai resolver o problema
curdo no norte do país", disse Bayik Al-Monitor em uma entrevista.
Daesh é a sigla para o ISIS em
árabe.
Bayik disse que a Turquia
"apoia os ataques de Daesh contra Kobane, que busca despovoar Kobane e faz
lobby para o estabelecimento de uma zona de barreira e não pode cortar laços
com o Daesh."
"Porque se o fizesse, o Daesh
exporia toda a roupa suja da Turquia, e os documentos que ligam um ao
outro", explicou.
"Todos os meios necessários"
Na reunião de Paris, cerca de 30
países se comprometeram a usar "todos os meios necessários" para
derrotarem o ISIS, incluindo deter as fontes de seu financiamento. No entanto,
a Turquia não foi um dos signatários do compromisso. Em sua determinação de eliminar Assad, a Turquia tem apoiado os grupos
jihadistas, cujos combatentes mais tarde se transformaram em combatentes do
ISIS.
Os comentários de Çavuşoğlu
pareciam refletir algumas das visões populares na Turquia, tal como foram apresentadas
em um editorial do jornal turco Hurriyet Daily, antes da Conferência de Paris sobre
o ISIS.
"A conferência internacional
que será realizada sob a liderança da França em Paris, em 15 de setembro é
improvável que mude a posição da Turquia diante da campanha militar
internacional contra o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL), de acordo
com um oficial turco… O Ministro das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, que
vai representar a Turquia na conferência, irá sublinhar a necessidade de ‘eliminação
absoluta das causas centrais do ISIL’, citando a formação de um governo inclusivo
no Iraque e a derrubada do regime de
Bashar al-Assad na Síria como prioridades necessárias para alcançar esse fim
".
O
Hurriyet Daily acrescentou que a posição da Turquia em relação ao ISIS tem o
apoio do povo turco em ficar de fora da coalizão anti-ISIS liderada pelos
Estados Unidos. Essa posição também reflete-se pela Turquia ser um canal
contínuo para ajuda ao ISIS em arrecadar fundos e usar as áreas ocupadas pelo
ISIS no Iraque para incentivar as empresas turcas.
Apesar
dos desmentidos, a Turquia continua a ser um meio de lavar dinheiro e para a
venda, no mercado negro dentro da Turquia e em regiões vizinhas, do petróleo
capturado pelo ISIS na Síria e no Iraque.
Fontes dizem que o ISIS lucra cerca
de US$ 30 milhões por mês a partir de tais vendas no mercado negro, já que o
petróleo que vende é menos da metade do preço do mercado global. Essas fontes
acrescentam que a principal beneficiária do corte no preço do petróleo é a
própria Turquia.
O preço de mercado do barril de
Petróleo Cru, a partir do final de agosto, era em torno de 102 dólares o
barril. No entanto, o ISIS está vendendo o petróleo de US$ 25 a US$ 60 o
barril. As fontes dizem que essas vendas não afetaram os preços globais do
petróleo já que a maior parte do petróleo no mercado negro nunca deixa a
Turquia.
Essas vendas abaixo do mercado de
petróleo pelo ISIS continuam apesar do bombardeio contínuo dos EUA aos chamados
poços de petróleo móveis do ISIS, especialmente na Síria.
O petróleo para a Turquia atravessa
a região sul, a qual o ISIS já designou para se tornar parte de seu califado,
abrangendo o noroeste da Síria até o oeste e a parte central do Iraque.
"Países como a Turquia têm
feito vista grossa para a prática e a pressão internacional deve ser criada
para fechar os mercados negros na sua região sul", de acordo com Lusay Al
Khatteeb do Brookings Doha Center.
"A parte do norte do Iraque, o
sul da Turquia e o leste da Síria são conhecidos historicamente por contrabando",
disse Khatteeb. "No início, essas gangues costumavam contrabandear
mercadorias. Agora, têm evoluído para o comércio de petróleo".
Tendo em conta que o preço reduzido
do petróleo é muito melhor do que aquilo que a Turquia, faminta por energia, tem
de pagar no mercado internacional, as autoridades turcas estão relutantes de
desligar esta fonte vital de petróleo.
Fontes
dizem que o ISIS atualmente controla cerca de 60 por cento dos campos de
petróleo no leste da Síria, sete campos de petróleo e duas refinarias no
Iraque.
Como
o site WND informou recentemente, as empresas turcas também estão atendendo a
uma chamada do ISIS para investirem nas áreas que o ISIS adquiriu no Iraque.
O Ministro da Economia da Turquia,
Nihat Zeybekci, manifestou interesse em incentivar as empresas turcas a
investirem em regiões ocupadas pelo ISIS no Iraque.
"Nossas exportações para o
Iraque agora são de até 35 por cento, mas o Iraque não pode facilmente
substituir outras fontes", disse Neybekci.
"Nós achamos que haverá um crescimento
acelerado na demanda em breve", disse ele. "Também sabemos que o
[ISIS] está em contato com empresários turcos individuais e dizendo-lhes:
'Volte, não vamos interferir’. Isso não é fácil, é claro. Mas quando o futuro Iraque
for reconstruído, quem fará isso será a Turquia".