4 perguntas para Jean Whyllys
Na Última segunda-feira (22/06), o deputado Jean Wyllys apareceu no CCBB, no ensaio da peça “Sexo Neutro”, para debater com o elenco sobre os conflitos de gênero. Não havia público assistindo – os detratores do parlamentar não podem nem o acusar de estar buscando popularidade a qualquer custo. Mas não é de hoje, ou melhor, de quando entrou para a política, que o baiano Jean Wyllys tomou gosto pela defesa das liberdades civis: desde a adolescência, quando participava da pastoral da Juventude Estudantil e de outros movimentos da Igreja ele já tinha grande ligação com tudo que se relaciona com justiça social.
Ultimamente, com tantos casos de intolerância sexual, religiosa e racial pipocando aqui e ali, Jean Wyllys tem sido ainda mais solicitado. Autor de quatro livros e jornalista com mestrado em Letras e Linguística, Jean dá sempre sua opinião de forma clara e acessível, sem falsa erudição. Em tempos de ânimos exaltados e discursos beirando a irracionalidade, o baiano não decepciona: sua fala é sempre no sentido da valorização da educação e da vida.
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Você acha que os evangélicos são mais intolerantes que os católicos?
“Não podemos fazer generalizações nem com os evangélicos nem com os católicos. São comunidades muito diversas. As igrejas que são intolerantes e homofóbicas são as neopentecostais fundamentalistas, que começaram a vigorar no Brasil no começo dos anos 70. Essas igrejas são mais intolerantes e homofóbicas que as outras igrejas evangélicas históricas, que as inclusivas e mais que a igreja esquerda católica (a teologia da libertação, os movimentos eclesiais de base e o movimento eclesial católicos, que são bem progressistas)”.
2
Quem está jogando pedras?
“O fundamentalismo é um movimento dentro da comunidade religiosa, que faz uma leitura literal dos fundamentos dessa religião e depois faz uma atuação política a partir dessa leitura. Os fundamentalistas fazem uma leitura ao pé da letra das escrituras, desconsiderando todo o conhecimento científico e progresso material que a sociedade acumulou ao longo dos anos e as modificações que envolvem o próprio processo de transcrição do texto sagrado. Por isso, vemos pastores chutando santos e pessoas apedrejando adeptos do candomblé… A gente está vivendo um período em que as pessoas estão muito ignorantes.”
3
O Brasil hoje é mais intolerante? O que está acontecendo?
“As novas tecnologias da era da informação deram voz aos intolerantes, que sempre existiram. Quando um racista dava sua opinião numa mesa de bar não afetava a coletividade. Hoje, nas redes sociais, ele não só ganha público como se articula em rede com pessoas que pensam igual a ele, e, assim, ele vão tendo expressão coletiva. Isso tem afetado a democracia, as liberdades individuais, todas as conquistas civis, o que é muito perigoso. Os homossexuais são as vítimas preferenciais”.
4
De onde parte a intolerância?
“As religiões monoteístas abraâmicas, as religiões do livro (islamismo, cristianismo e judaísmo) partiram do mesmo conjunto de livros, que é o Antigo Testamento (o Corão e a Torá). Nesse conjunto de narrativas, está lá, no livro de Levítico, a condenação contra a prática do que chamamos hoje homossexualidade. Mas por que se seleciona apenas um trecho do Levítico? Por que não pegar todos os trechos, como os que proíbem fazer a barba, não usar túnica com mais de dois fios de algodão ou comer frutos do mar?”