Vaticano diz “Crucifixo comunista” sinal de diálogo, não ideologia
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Nicole Winfield
Comentário de Julio Severo: Esta reportagem, da Associated Press, traz uma surpresa: O crucifixo comunista dado por Evo Morales ao Papa Francisco foi na verdade feito por um padre jesuíta. A reportagem cita também outro padre jesuíta defendendo o crucifixo comunista.
SANTA CRUZ, Bolívia (AP) — O presente polêmico do presidente boliviano Evo Morales de um “crucifixo comunista” para o Papa Francisco ameaçou ofuscar a visita do papa à Bolívia na quinta-feira, com o Vaticano e a Bolívia insistindo em que ninguém quis ofender e ninguém ficou ofendido.
Morales deu a Francisco o crucifixo entalhado num martelo e foice na chegada de Francisco à Bolívia na quarta-feira, imediatamente mostrando-se surpreendido, considerando os ataques passados de Morales à Igreja Católica e sua inclinação socialista.
No final das contas, revelou-se que o crucifixo foi originalmente projetado e feito por um ativista jesuíta, o Pe. Luis Espinal, que foi assassinado em 1980 por suspeitos paramilitares durante os meses que precederam um golpe militar. Francisco, que também é jesuíta, parou sua carreata para rezar no local em que o corpo de Espinal havia sido jogado.
O Rev. Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse na quinta-feira que o papa não tinha ideia de que Espinal havia projetado o crucifixo e ficou surpreso em recebê-lo — uma reação claramente visível na gravação filmada do encontro. Algumas reportagens sugeriram que o papa disse a Morales “Isso não foi bom.” Um dos amigos de Francisco enviou um tuíte citando-o como dizendo isso. Mas Lombardi disse que não se sabe o que o papa havia dito.
Lombardi disse que Espinal havia projetado o crucifixo como símbolo de diálogo e compromisso para com a liberdade e progresso para a Bolívia, não com alguma ideologia específica em mente. Lombardi disse que, pessoalmente, ele não ficou ofendido com o crucifixo.
“Você pode questionar o significado e uso do símbolo agora, mas a origem é de Espinal e o sentido do crucifixo foi sobre diálogo aberto, não sobre uma ideologia específica,” Lombardi disse.
Ele comentou o contexto em que Espinal estava vivendo: como padre trabalhando pela justiça social na Bolívia durante um período de instabilidade que precedeu uma ditatura de direita conhecida por abusos aos direitos humanos.
Entretanto, um dos amigos de Espinal, o Pe. Xavier Albo, que também é jesuíta, disse que a intenção de Espinal era que a Igreja Católica estivesse em diálogo com o marxismo, e disse que Espinal havia alterado seu crucifixo para incorporar o símbolo mais potente dos comunistas: o martelo e a foice.
“Nisso ele claramente queria falar sobre a necessidade de dialogar permanentemente não só com o marxismo, mas também com os camponeses e os mineiros, etc.,” Albo disse à Associated Press no começo deste mês.
O Vaticano lançou uma sanção dura contra a Teologia da Libertação nas décadas de 1970 e 1980, temendo que os marxistas estivessem usando sua “opção preferencial pelos pobres” para transformar o Evangelho numa convocação para a revolução armada.
O governo boliviano insistiu em que o presente não foi uma manobra política de espécie alguma, mas foi um símbolo que Morales achou que o “papa dos pobres” apreciaria.
“Essa foi a intenção desse presente, e não foi algum tipo de manobra… Foi realmente motivado por grande afeição, um trabalho feito pelas próprias mãos de Luis Espinal,” Marianela Paco, ministra das comunicações, disse à estação de radio Patria Nueva.
A blogosfera católica estava murmurando na quinta-feira sobre o “crucifixo comunista” e qual era, exatamente, a intenção de Morales ao dá-lo ao papa.
O Pe. James Bretzke, teólogo da Faculdade de Boston em Massachusetts, disse que não existe nenhuma lei católica que trate se uma imagem cristã é sacrílega, considerando que a arte cristã é muitas vezes retratada de maneiras variadas.
Mas, ele continuou: “Isso é de bom gosto? Isso parece estar usando o Crucifixo para uma agenda política? E eu diria que a resposta é provavelmente sim. Portanto, pessoalmente eu a julgaria como de mau gosto e especialmente manipulativo dá-la de presente ao Santo Padre numa situação como essa em que claramente não havia sido autorizada antes do tempo.”
O Pe. Robert Gahl, teólogo moral da Pontifícia Universidade da Santa Cruz em Roma, disse que tudo se resume na intenção de Espinal ao projetar a cruz e a intenção de Morales ao dá-la ao papa.
“Eu suporia que, considerando as calorosas boas vindas de Morales e as convicções pessoais de Espinal, a intenção não foi ofender, mas pelo contrário indicar potencial para diálogo e até mesmo sinergia,” ele disse num email. “Os cristãos tendem a ver nossos símbolos a partir da perspectiva do amor universal, redenção e até mesmo o triunfo de Cristo sobre o mal. Aliás, esse é o sentido da cruz!”
Traduzido por Julio Severo do original em inglês da Associated Press: Vatican: “Communist crucifix” sign of dialogue, not ideology
Fonte: www.juliosevero.com