O que já se sabe sobre os suspeitos de planejar ataques terroristas do ISIS no Brasil
Segundo o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, os suspeitos não se conheciam
pessoalmente e vivem em diferentes Estados do país
A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (21) dez brasileiros suspeitos de planejar
ataques durante a Olimpíada do Rio. Eles se comunicavam pela internet e parte do grupo
fez juramento de lealdade ao grupo autodenominado Estado Islâmico - mas, segundo as
investigações, não tiveram contato direto com os extremistas.
São 12 pessoas com pedidos de prisão, sendo que 10 já foram detidos. Segundo
o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, eles não se conheciam pessoalmente e vivem
em diferentes Estados do País.
"Aparentemente, era uma célula absolutamente amadora, sem nenhum preparo", disse o
ministro em entrevista coletiva no fim da manhã. De acordo com ele, a probabilidade de
um ataque na Olimpíada é "mínima".
Confira o que já se sabe sobre o caso.
1) Quem eram os suspeitos?
São 12 pessoas com prisão decretada, sendo que 10 já foram detidas. As outras duas já
foram rastreadas pela Polícia Federal, mas ainda não tinham sido detidas até o momento
do pronunciamento de Moraes, no fim da manhã.
Todos os suspeitos são brasileiros - suas idades não foram reveladas. Além das 12
pessoas com pedido de prisão, um menor de idade foi alvo de ação de busca e apreensão.
Os suspeitos nunca marcaram um encontro pessoal - eles não se conheciam
pessoalmente
e viviam em Estados diferentes. Segundo o ministro, a ordem era cada um por si.
De acordo com a Justiça Federal, os investigados preconizam a intolerância racial, de
gênero e religiosa, além do uso de armas e táticas de guerrilha para alcançar seus
objetivos.
Eles foram detidos em dez Estados: Amazonas, Ceará, Paraíba, Goiás, Minas Gerais,
Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Dois deles já foram
condenados e cumpriram prisão por homicídio.
Além disso, a operação investiga uma ONG "com atuação na área humanitária e
educacional" que teria colaborado com o grupo suspeito.
2) Como eles se comunicavam?
Os envolvidos participavam de um grupo virtual chamado Defensores da Sharia - a lei
islâmica. A investigação contou com quebra de sigilo telefônico e de dados dos suspeitos,
que trocavam mensagens usando redes sociais.
Eles também se comunicavam via aplicativos de mensagens instantâneas como
WhatsApp e Telegram. Questionado pela BBC Brasil, o ministro disse, no entanto, que não
poderia esclarecer se houve monitoramento desses aplicativos.
Nesta semana, o WhatsApp foi tirado do ar por algumas horas, após decisão judicial,
justamente por sua resistência em quebrar a privacidade dos usuários para permitir
monitoramento de supostos criminosos - a empresa diz que, como as conversas agora são
criptografadas de ponta a ponta, ela não tem acesso às conversas.
"Nós temos outros métodos de investigação", disse o ministro, sem especificar quais.
3) Qual era o contato com o Estado Islâmico?
Segundo as investigações, não houve contato direto com os extremistas. Mas alguns dos
suspeitos fizeram juramento ao grupo pela internet - de acordo com Moraes, isso foi
realizado por meio de uma ferramenta online padrão.
Ele não soube precisar o número, mas de quatro a seis indivíduos teriam feito o juramento.
Além disso, um deles teria manifestado a intenção de ir ao exterior para fazer contato com
o grupo, mas dias depois desistiu por falta de recursos para custear a viagem.
4) O que permitiu que eles fossem presos?
O grupo detido nesta quinta-feira foi preso sob a suspeita de praticar "atos preparatórios"
para ataques. Segundo Moraes, eles trocaram mensagens em que planejavam iniciar
treinamento em artes marciais e em tiro.
Um deles enviou e-mail para uma loja de armas para comprar um fuzil AK-47, disse o
ministro.
A legislação brasileira não permite prisão por atos preparatórios no
caso de crimes comuns.
No entanto, no ano passado o Congresso aprovou uma nova lei antiterrorismo que permite
esse tipo de prisão em casos de terror.
5) Que tipo de ataque pretendiam executar?
Pelas conversas monitoradas, o ministro identificou que o grupo teria mais interesse em
um ataque por tiros, já que discutiram sobre treinamento em armas e um deles tentou
comprar um AK-47.
Além disso, segundo Moraes, eles elogiaram nas conversas o ataque recente de um
atirador solitário em uma boate gay em Orlando, nos EUA, que terminou com 50 pessoas
mortas. "Em nenhum momento eles falaram de bomba", notou o ministro.
Em outro ataque recente, em Nice, na França, um homem atirou um caminhão contra uma
multidão, matando 84.
6) Qual o nível de periculosidade do grupo?
Moraes classificou o grupo de "célula absolutamente amadora" e "desorganizada". Os
suspeitos vivam em Estados diferentes e nunca tinham se encontrado pessoalmente.
O ministro disse que não pode detalhar quando teve início o monitoramento dos presos,
mas revelou, por exemplo, que as mensagens sobre treinamento em artes marciais e tiro
eram muito recentes.
"Aparentemente, era uma célula absolutamente amadora, sem nenhum preparo. 'Vamos
treinar artes marciais', essa mensagem é recentíssima. E qualquer célula organizada não
tentaria comprar uma arma na internet. Até porque um deles estava no Paraná, mais
próximo de onde sabemos que infelizmente se compra muita arma, que é o Paraguai",
explicou.
Apesar do claro amadorismo dos suspeitos, o ministro disse que nenhuma ameaça, por
mínima que seja, deve ser ignorada.
"Nenhuma força de segurança séria pode ignorar, mesmo verificando que tudo levaria a
crer que não realizaria um ato sério, competente de terrorismo, mas não seria de bom
senso aguardar para ver", destacou.
7) Qual o grau de risco para a Olimpíada?
Moraes informou que nem o governo brasileiro nem as agências internacionais alteraram a
classificação de risco de ataque no Brasil após essas prisões.
Ele reiterou que "a questão da segurança pública (na Olimpíada) é muito mais importante,
gera muito mais preocupação que a questão do terrorismo".
"Probabilidade mínima de ataque terrorista", disse ainda.
Fonte : BBC BRASIL