Não há tabus nas relações entre Brasil e Argentina, diz Michel Temer, com visita de Macri
Um pouco antes da fala do presidente foram anunciadas as assinaturas de alguns memorandos entre os dois países, mas nenhum relacionado aos temas tidos como mais sensíveis
O presidente Michel Temer disse nesta terça-feira (7), em uma declaração à imprensa ao lado do presidente da Argentina, Mauricio Macri, que os dois concordaram em adotar medidas para eliminar "obstáculos ao comércio" dentro do Mercosul.
Macri foi a Brasília para a primeira viagem oficial ao Brasil desde que foi eleito. Ele foi recebido por Temer no Palácio do Planalto com honras de chefe de Estado. Os dois presidentes e suas comitivas tiveram uma reunião e, em seguida, Temer e Macri deram uma declaração à imprensa.
"Também temas do Mercosul foram tratados e avançamos substancialmente. Não só tratamos do acordo com a União Europeia, mas também na integração da América do Sul. Foi assim que tratamos dessa matéria. Coincidimos também em promover a eliminação de obstáculos ao comércio que persistem no espaço do Mercosul. Temos progredido muito nos acordos de investimentos e de compras governamentais", disse Temer.
Temer disse ainda que ressaltou a Macri a importância de se reduzir ao mínimo barreiras fitossanitárias no comércio entre os dois países. Um dos principais pontos de reclamação de exportadores brasileiros à Argentina são essas barreiras impostas para a entrada de produtos brasileiros no país vizinho.
“Ressalto os avanços nos entendimentos de cooperação regulatória. Para tornar mais fluidos os fluxos de comércio e de investimentos, temos que reduzir, e é o que foi debatido, ao mínimo as barreiras técnicas, sanitárias e fitossanitárias”, afirmou Temer.
Em seguida, Temer e Macri foram para o Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, onde o governo brasileiro ofereceu um almoço para o presidente argentino.
O presidente brasileiro defendeu ainda uma maior integração da América Latina, especialmente a América do Sul e o México, visando futuras negociações entre o Mercosul e a Aliança para o Pacífico. O último bloco é formado por Chile, Colômbia, México, Peru e Costa Rica.
Na avaliação de Temer, diante de mundo “de tantas e tamanhas incertezas”, a visita oficial de Macri é uma “resposta” para mais cooperação e integração entre os países.
Em sua fala, o presidente Mauricio Macri concordou que Brasil e Argentina devem ser “aliados do século 21”. Além de outros países interessados em negociar com os brasileiros e argentinos, ele afirmou que a mudança de cenário mundial pode fazer com que o México “se volte mais ao sul”.
Outros temas debatidos entre Temer e Macri incluíram o combate ao narcotráfico, o apoio a comunidades fronteiriças e o trabalho conjunto no setor nuclear.
Ao fim, Macri reforçou a importância da visita, declarou que o “afeto” da Argentina pelo Brasil está cada vez mais forte e brincou com a rivalidade histórica entre os países no futebol.
“O afeto da Argentina pelo Brasil está cada vez mais forte. Temos muito a compartilhar, que a rivalidade seja só nos esportes, como no futebol”, brincou Macri.
Carta e assinatura de acordos
Após a reunião, Temer e Macri assinaram uma carta a ser enviada ao presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno. No documento, os presidentes pedem estudos visando a criação de uma agência binacional sobre normas técnicas e sanitárias.
Eles também assinaram quatro atos nas áreas econômica, social e diplomática. Um complemento a um acordo em vigor vai permitir a prestação de serviços de emergência a comunidades fronteiriças. Por meio do adendo, ambulâncias e bombeiros de ambos os países poderão cruzar a fronteira e atender pessoas em situação de risco.
Também foi assinado um acordo de cooperação entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e a Agência Argentina de Investimentos e Comércio Internacional. Com o ato, as entidades poderão realizar mais intercâmbios de publicações, incentivar missões comerciais conjuntas e promover a formação de sociedades mistas para atuarem em outros países.
Um dos memorandos pretende fortalecer a estrutura das chancelarias do Brasil e da Argentina com foco no uso das mídias sociais para as políticas externas. O outro estabelece um grupo de trabalho entre os consulados para a troca de informações sobre comunidades emigradas nos dois países.
Agenda de Macri
Além da reunião com Temer e do almoço no Itamaraty, Macri visitou os presidentes do Congresso Nacional, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O presidente argentino também visitou o Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi recebido pela presidente, Cármen Lúcia, e por oito ministros da Corte, além do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. No encontro, que durou cerca de 30 minutos, cada um dirigiu palavras de cortesia a Macri, que recebeu de presente uma Constituição brasileira.
Maurício Macri retornará a Buenos Aires no fim da tarde desta terça, por volta das 17h15.
* Colaboraram Fernanda Calgaro, Bernardo Caram e Renan Ramalho, G1, Brasília