New York Times se metendo no julgamento do molusco de 9 dedos; Economista Mark Weisbrot critica a atuação do Judiciário no processo contra Lula
O Brasil foi o último do Ocidente a abolir a escravidão, é uma democracia "bastante jovem", que se libertou da ditadura há apenas três décadas. A democracia do país, contudo, nunca esteve tão fraca desde então e, nesta semana, ainda pode ficar mais deteriorada com o julgamento do ex-presidente Lula. A leitura do cenário brasileiro é do economia norte-americano Mark Weisbrot, co-diretor do Centro para Pesquisas Econômicas e de Políticas Públicas (Center for Economic and Policy Research - CEPR), em Washington.
"Nos últimos dois anos, o que poderia ter sido um avanço histórico - o Partido dos Trabalhadores garantir autonomia para o Judiciário investigar e processar casos de corrupção - virou o oposto. Como resultado, a democracia do Brasil está em seu momento mais frágil desde o fim da ditadura militar", escreve Mark Weisbrot em artigo publicado nesta terça-feira (23) no New York Times, na versão online, e que deve ser publicada na edição impressa desta quarta-feira (24) do jornal norte-americano.
"Nesta semana, esta democracia pode sofrer uma erosão ainda mais profunda enquanto um tribunal de apelação de três juízes deve decidir se a figura política mais popular do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores, será impedido de concorrer na eleição presidencial de 2018, ou mesmo se será preso", completa.
O economista argumenta que não há grandes expectativas de que a Corte será imparcial. Weisbrot destaca que o presidente do TRF-4, desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, já disse que a sentença de condenação de Lula no caso do triplex do Guarujá do juiz Sérgio Moro "foi tecnicamente irrepreensível", e que a chefe de gabinete da presidência do TRF-4 publicou em sua página no Facebook uma petição online para coletar assinaturas em apoio à condenação e prisão do ex-presidente.
"O juiz Sérgio Moro tem demonstrado seu próprio partidarismo em numerosas ocasiões", alerta Weisbrot, lembrando que Moro teve de se desculpar ao STF em 2016 pela divulgação dos áudios de conversas entre Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff, seu advogado e sua esposa e filhos, e que Moro "organizou um espetáculo para a imprensa", em que a polícia apareceu na casa de Lula e o levou para depor coercitivamente, mesmo com o ex-presidente declarando que poderia depor voluntariamente.
"As evidências contra o Sr. Silva estão longe dos padrões a serem levados a sério, por exemplo, no sistema jurídico dos Estados Unidos", continua o especialista. "O suborno alegadamente recebido pelo Sr. da Silva é um apartamento de propriedade da OEA. Mas não há provas documentais de que o Sr. da Silva ou sua esposa já tenham recebido títulos, alugado ou mesmo que tenham permanecido no apartamento, nem que tenham tentado aceitar este presente", completa.
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