A Cia age livremente no Brasil sem que ninguém questione ela
O que devem estar fazendo nesse exato instante os agentes da CIA infiltrados no Brasil com a missão de enviar relatórios confidenciais para seus superiores em Washington? Quais são suas prioridades? Na política, certamente devem ter informações de cocheira sobre as manobras do governo Temer para se manter de pé e também sobre os bastidores de tudo que ocorre em Curitiba. Outro foco prioritário, sem dúvida, deve ser a movimentação das peças no tabuleiro da sucessão de Temer. Há que manter o governo Trump a par do que está acontecendo em Brasília, para evitar futuras surpresas. Se possível, recomenda-se também interferir no processo eleitoral, o que não seria novidade tratando-se do grande irmão do Norte e da CIA. Há três anos, graças às denúncias do Wikileaks, ficamos sabendo que a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) gravou telefonemas da então presidente Dilma Rousseff e de seus ministros, num total de 29 telefones grampeados. E isso aconteceu na gestão do democrata Barack Obama. Imaginem o que os agentes de Washington estão aprontando nesses dias sob as ordens do patético e tresloucado dono da Trump Tower.
Que a CIA está por aí, não há qualquer dúvida. Mas só teremos acesso a seus relatórios e arquivos daqui a 40 ou 50 anos, quando deixarem de ser segredo de Estado. Então, todos vamos nos surpreender ou confirmar antigas suspeitas. Foi o que aconteceu em relação às atrocidades cometidas durante a ditadura militar. Documentos da CIA obtidos pelo professor da Fundação Getúlio Vargas, Matias Spektor, revelaram o teor sinistro de conversas entre os generais Ernesto Geisel, Milton Tavares, Confúcio de Paula Avelino e João Figueiredo, em 11 de abril de 1974, quinze dias após a posse de Geisel na presidência. Segundo o relato do chefe da CIA na época, William Colby, ao secretário de Estado Henry Kissinger, Milton Tavares, chefe do Centro de Informações do Exército (CIE) deu detalhes a Geisel sobre a execução de 104 opositores do regime militar e pediu sinal verde para continuar a matança. Após um fim de semana de prazo para pensar, Geisel deu seu aval às execuções.
Divulgado o memorando da CIA, caiu por terra a versão de que Ernesto Geisel se opôs à política de extermínio dos generais. Com sua autorização, e também de João Figueiredo, foram mortos todos os guerrilheiros do Araguaia e toda a direção do PCB, o Partidão. Muitos estão desaparecidos até hoje. Como diz o jornalista Álvaro Caldas, os crimes não foram cometidos nos porões da ditadura, mas, sim, em imponentes quartéis do Exército, como o da rua Barão de Mesquita, no Rio, que permanece com suas portas abertas até hoje. O que representa um desrespeito à memória dos que ali morreram, como o deputado Rubens Paiva.
Graças também à quebra de sigilo de arquivos da CIA, acabamos de saber que a Agência usou satélites para espionar o programa espacial brasileiro e o complexo industrial militar do país de 1978 a 1988. Coube aos jornalistas Marcelo Godoy e Roberto Godoy, este um dos maiores especialistas da imprensa em matéria de defesa, revelar os documentos. Os papéis da CIA, liberados em 2016, mostram a análise de fotos aéreas do centro de lançamento de foguetes de Natal e do campo de provas de armamento da Serra do Cachimbo, onde avançava um projeto de testes de armas nucleares. A rede de informantes da embaixada dos Estados Unidos também centrou sua atenção em tudo que ocorria no entorno do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) de São José dos Campos. Entre os alvos da espionagem, estavam a Avibrás, que desenvolvia projetos de foguetes militares, e a Engesa, fabricante dos blindados Cascavel e Urutu, que pretendia produzir o tanque pesado Osório. Na época, a Engesa exportava seus blindados para a Líbia, o Iraque e a Colômbia, além de ter firmado protocolo com a Arábia Saudita, para produzir uma versão do Osório. Mas o maior temor da Casa Branca era que o Brasil produzisse mísseis nucleares. Daí a vigilância redobrada sobre nossa indústria e nossos projetos de defesa.
Temos, portanto, novas provas da atuação da CIA no Brasil. E uma coisa é certa nesses dias de grande incerteza política: a CIA está por aí e age com a liberdade de sempre.
E à ABIN o que faz? Bem, a ABIN... NADA