Jair Bolsonaro manda indireta para o Centrão: ¨Ninguém deve desejar minha cadeira Presidencial, porque se a Economia for mal, nem um santo vai salvá-la¨
Em discurso, afirmou que ninguém "deve desejar sua cadeira", porque, segundo ele, não é fácil enfrentar pressões de vários setores da sociedade
O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (29), que existem ameaças a seu mandato e que o fato de estar na Presidência da República vai “contra interesses de muita gente”. Questionado, ele não quis responder a que ameaças se referia, mas, em discurso, afirmou que ninguém “deve desejar sua cadeira”, porque, segundo ele, não é fácil enfrentar pressões de vários setores da sociedade. Nem mesmo um santo vai conseguir ser um bom governante se a economia for mal. Ele também reclamou de ameaças, das pressões e problemas a que está submetido no cargo e deu um recado: "não queiram a minha cadeira". Para melhorar a economia, voltou a defender algumas medidas, como a reforma da Previdência e a revogação do decreto que criou a estação ecológica de Tamoios, transformando a região de Angra dos Reis (RJ) em uma "nova Cancún", numa referência ao balneário mexicano.
— Não existe governo bom com economia ruim. Pode botar um santo como presidente, governador ou prefeito. Se a economia for mal, ele vai ser defenestrado de lá. Agora, o grande problema que nós temos, sem querer entrar na questão político partidária é o seguinte. Quem poderá vir depois de nós? Quantos aqui votaram em mim, até eu sendo o mais ruim? O menos ruim, melhor dizendo. Mas tinha uma questão ideológica que é grave e paira sobre nós esse fantasma. Não queremos partir para uma situação como temos aí em alguns países, riquíssimos, como a nossa querida Venezuela, que descambou — disse Bolsonaro durante a posse simbólica de Gilson Machado Neto como presidente da Embratur.
Em seguida, Bolsonaro voltou a criticar a possibilidade de a ex-presidente argentina Cristina Kirchner retornar ao poder como vice-presidente e emendou reclamando da pressão do cargo que ocupa.
— Por uma situação bastante complicada, como estamos acompanhando na Argentina também: a volta de uma ex-presidente, na condição de vice, que pode levar aquele país maravilhoso que é a Argentina a uma situação semelhante à Venezuela. E esse mal, não estamos livres de uma país, um dia, dar uma marcha a ré. Devemos lutar por isso também, não por mim. Até porque não queiram a minha cadeira. Ocupar aquela cadeira é muito difícil. Não é fácil enfrentar tantos problemas e pressões de tantos setores da sociedade. Devemos sim buscar fazer o melhor pelo país — disse o presidente.
Em entrevista após o evento, questionado se isso foi um desabafo, ele respondeu:
— Difícil, porque tem problemas. Não é gente atrapalhando, não. São os problemas que o país tem. Uma dívida interna monstruosa, uma reforma da Previdência que alguns teimam em jogar contra, mas ela é necessária para o bem de todos.São esses problemas que acontecem e não é fácil. Ameaças que existem. Estamos conseguindo governar o Brasil — disse Bolsonaro, sem detalhar que ameaças são essas.
Com dificuldades na articulação política e na relação com o Congresso, Bolsonaro disse que quer governabilidade, mas não de qualquer forma. Ele também afirmou que cada vez mais está se aproximando dos chefes dos outros poderes, como os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, da Câmara, Rodrigo Maia, e do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.
— É muito bom estar à frente de um cargo em que estou quando o compromisso é com o futuro da sua pátria. Não temos nenhum compromisso com aqueles que não pensam dessa maneira. Queremos a governabilidade, mas ela vem da consciência de todos. Tive a liberdade, graças a Deus, de escolher ministros técnicos, honrados e compenetrados em cumprir sua missão — afirmou o presidente.