Bolsonaro chega ao G20 no Japão, pressionado pelo Establishment
Esta cúpula do G20 será complicada para o presidente Jair Bolsonaro. O encontro desta sexta-feira (28/06) e sábado em Osaka, no Japão, é o primeiro dos chefes de Estado e de governo das principais economias do mundo do qual participa o líder brasileiro, há seis meses no poder.
Já durante os preparativos houve algumas panes: um suboficial brasileiro que acompanhava a comitiva do governo foi apanhado ao transportar 39 quilos de cocaína num avião da Força Aérea em Sevilha. A aeronave presidencial, que vinha a seguir com Bolsonaro, teve que desviar para Lisboa, como primeira escala a caminho da cúpula.
Além disso, alguns ministros importantes deixaram o presidente na mão: o chanceler Ernesto Araújo participou de negociações de um acordo entre o Mercosul e a União Europeia em Bruxelas até esta quarta-feira e voará direto para o Brasil. O ministro da Economia, Paulo Guedes, ficará em Brasília, para acompanhar no Congresso os trâmites da reforma da Previdência – a peça central das mais do que urgentes reformas econômicas no país.
Para completar, os mais recentes prognósticos econômicos da América Latina foram surpreendentemente negativos: o crescimento das sete maiores economias da região caiu no primeiro trimestre de 2019 em relação ao anterior, e este ano o PIB latino-americano só aumentará 1%. Sobretudo as turbulências da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China prejudicam o clima na América Latina.
Isso enfraquece os representantes da região em Osaka, pois eles têm grande peso no G20. Com Argentina, México e Brasil, a representação da América Latina na cúpula é quase o dobro do que deveria ser se considerada sua contribuição à economia mundial. Mas o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, cancelou sua participação, e, portanto, Bolsonaro e o argentino Mauricio Macri representarão sozinhos um continente em crise.
Bolsonaro tem compromissos complicados pela frente. Está marcado um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping. Durante a campanha eleitoral, o brasileiro criticou constantemente a influência exagerada da "China maoísta" como grande inimiga do Ocidente cristão-conservador.
Agora Bolsonaro deve pedir a Xi que os chineses comprem mais produtos de alto valor do Brasil, em vez de apenas soja e minério de ferro. O líder chinês, por sua vez, quer saber se o Brasil permitirá a tecnologia da operadora de telecomunicações Huawei na ampliação da rede de telefonia móvel 5G. Do ponto de vista estratégico, a posição de Bolsonaro na conversa com Xi não é favorável.
O presidente brasileiro voltará a encontrar o chinês na cúpula do Brics – o grêmio formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, que se realiza paralelamente. O Brasil exerce a presidência do Brics neste ano, e uma reunião dos líderes do bloco está marcada para novembro em Brasília. Até agora não se escutou do governo brasileiro nenhuma indicação de que focos o governo pretende colocar no clube dos mercados emergentes.
Segundo dados da Presidência, o Brasil não solicitou nenhum encontro bilateral, mas aparecem na agenda reuniões com líderes do Japão, França, Cingapura, Índia e Arábia Saudita.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, pretende conversar com Bolsonaro sobre o desmatamento crescente das florestas tropicais. O presidente já antecipou que não aceitará advertências da Alemanha: "Eles têm a aprender muito conosco", declarou após desembarcar em Osaka.
O encontro com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, é politicamente delicado. Acabam de ser divulgados novos indícios de que ele esteve pessoalmente envolvido no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, crítico do governo em Riad. Bolsonaro quer conversar com o líder saudita a fim de aparar as arestas com o Oriente Médio após a visita oficial do presidente brasileiro a Israel, antes das eleições locais. A região é um dos principais compradores de carne de ave do Brasil e outros produtos helal.
Uma surpresa positiva pode vir tanto de Bolsonaro e Macri quanto dos representantes da UE na cúpula: houve progressos nos últimos dias nas negociações entre os europeus e o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) em torno de uma zona de livre-comércio. É possível que as transações que transcorrem há mais de 20 anos se concluam durante a cúpula em Osaka.
Esse seria um tremendo sucesso, tanto para a Comissão Europeia quanto para o Mercosul. Considerados os 260 milhões de consumidores do bloco sul-americano, um acordo com ele não seria apenas o mais importante já firmado pela UE do ponto de vista econômico.
Como observou a comissária da União Europeia para o Comércio, Cecilia Malmström, seria também um "sinal muito forte para o mundo" – mais especificamente para a cúpula do G20 em Osaka, em que mais uma vez os europeus enfrentarão o presidente dos EUA, Donald Trump, em busca de um comprometimento com a livre-circulação de mercadorias e de um consenso sobre regras comerciais internacionais.