França irá usar reconhecimento facial como identidade digital
Governo de Emmanuel Macron planeja implantar a tecnologia por meio de um aplicativo, que vai permitir aos cidadãos acessar a identidade, contas bancárias e impostos
O governo de Emmanuel Macron está realizando planos para tornar a França o primeiro país europeu a usar a tecnologia de reconhecimento facial como meio de fornecer aos cidadãos uma identidade digital, considerada mais segura. O programa de identificação vai ser usado por um aplicativo chamado Alicem, e deve entrar em vigor a partir de novembro.
Com a mudança, o país pretende oferecer à população acesso
aos documentos, desde impostos e contas bancárias até a previdência
social, por meio da tecnologia de reconhecimento facial.
Cingapura já utiliza o reconhecimento facial e, recentemente, assinou
um acordo com o Reino Unido para ajudá-lo a criar seu próprio sistema de
identificação, o que mostra que alguns países da Europa pretendem
aderir cada vez mais a processos digitais.
A França disse que o sistema não será usado para controlar as atividades dos residentes. Diferentemente de países como China
e Cingapura, o governo francês afirmou que não vai integrar a biometria
de reconhecimento facial no banco de dados de identidade dos cidadãos. O
Ministro do Interior, responsável por desenvolver o Alicem, prometeu que os dados serão excluídos assim que o processo de inscrição no aplicativo terminar.
A
novidade, segundo o governo francês, visa aumentar a segurança da
população, mas causou discórdia no país. O órgão regulador de dados da
França disse que o programa viola a regra de consentimento europeu, e um
grupo de privacidade contestou o mais alto tribunal administrativo do
país. Um hacker chamado Robert Baptiste levou pouco mais de uma hora para invadir um aplicativo de mensagens
do governo este ano - que era considerado "altamente seguro" - o que
levantou suspeitas a respeito dos padrões de segurança do Estado.
"O governo quer canalizar as pessoas para usarem o
Alicem e o reconhecimento facial", afirmou Martin Drago, advogado do
grupo de privacidade La Quadrutare du Net, que entrou com um processo
contra o Estado. “Estamos adotando o uso em massa de reconhecimento
facial. Há pouco interesse na importância do consentimento e da
escolha”.
Os opositores também disseram que o aplicativo
viola o Regulamento Geral de Proteção de Dados da Europa. Emilie
Seruga-Cau, chefe da unidade de aplicação da lei da CNIL, reguladora de
privacidade independente do país, disse que deixou suas preocupações
"muito claras" diante do Estado.
O aplicativo vai estar disponível somente para Android, e contará com o brasão da república francesa no logo.
União Europeia
A nova Comissão da UE, cujo mandato começa em novembro, tem entre seus objetivos a construção de uma “Europa adequada para a Era Digital”. Um documento de política interna da Comissão detalha todas as estapas que o bloco deve tomar para controlar as tecnologias de Inteligência Artificial, o que inclui programas de reconhecimento facial.
Patrick
Van Eecke, especialista em privacidade e dados do DLA Piper, disse que a
implantação da tecnologia na França ainda é uma incógnita para
determinar se será bem sucedida ou não. "O amplo uso de um equivalente
de DNA público é um desafio para os reguladores. Você pode olhar para o
uso do reconhecimento facial na França pela identidade digital de duas
maneiras: vai longe demais em termos de privacidade ou eles estão usando
a nova tecnologia mais segura. Eles são os principais candidatos ou
estão ultrapassando os limites?", afirmou Van Eecke.