As 48 horas finais de Evo Morales Como Presidente da Bolívia
Até então, as forças armadas e a polícia da Bolívia seguiam o governo de Evo e vinham atuando nas manifestações da oposição.
Agentes de segurança mudaram de posição na sexta-feira (8), quando começaram a se recusar a reprimir os manifestantes. Em Cochabamba aconteceu o primeiro motim. Em seguida, houve ação semelhante em Sucre e em Santa Cruz.
Na capital La Paz, os manifestantes começaram a saudar os policiais. O
opositor Luis Fernando Camacho fez um chamado público para “interromper a
ordem constitucional” e convocou as forças armadas a não reconhecer o
governo de Evo e pedir a sua renúncia.
No sábado (9), os policiais de La Paz também aderiram ao motim.
O governo então divulgou um comunicado no qual classificava as ações
como um golpe de estado: “Os últimos acontecimentos põem em evidência a
implementação de um plano de golpe de estado provocado por grupos
cívicos radicais”.
Relatório sobre eleições
Nesse dia, houve ao menos três incêndios: em Oruro, foram queimadas a
casa da irmã de Evo e a do governador local e, em Chuquisaca, também a
residência do governador.
Logo cedo no domingo (10), a Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgou um relatório preliminar da auditoria que ela conduziu sobre as eleições.
A Bolívia aceitou, no 30 de outubro, que a OEA fizesse uma auditoria do processo eleitoral que havia sido controverso.
O relatório preliminar foi muito desfavorável a Evo.
"A equipe de auditores não pôde validar o resultado da presente eleição,
e recomenda um outro processo eleitoral. Qualquer futuro processo
deverá contar com novas autoridades eleitorais para poder levar a cabo
eleições confiáveis", afirmou a entidade.
Os auditores afirmaram ter encontrado problemas na tecnologia da
eleição, na cadeia de custódia, na integridade das atas eleitoras e nas
projeções estatísticas.
A presidente do Supremo Tribunal Eleitoral da Bolívia, Maria Eugenia
Choque Quispe, renunciou ao cargo. Mais tarde, após a renúncia de Evo, ela seria presa.
Ainda pela manhã de domingo (10), Evo anunciou que a votação do dia 20
de outubro estava anulada. A ideia era renovar a Justiça Eleitoral
inteira e, depois disso, convocar novas eleições.
“[Decidi] convocar novas eleições nacionais que mediante ao voto
permitam ao povo boliviano eleger democraticamente suas novas
autoridades, incorporando novos atores políticos", afirmou.
Ele adicionou: "Quero pedir para baixarmos toda a tensão. Todos temos a obrigação de pacificar a Bolívia".
Exército pede a renúncia
Horas mais tarde, o comandante-chefe das Forças Armadas da Bolívia, general Williams Kaliman, pediu para que Evo renunciasse.
O comandante da Polícia Boliviana, general Vladimir Yuri Calderón, em vídeo nas redes sociais, também pediu a saída de Evo.
Evo Morales, então, ao ver que não restava alternativa, cedeu e renunciou.