Estudo aponta que rota de voo de Roma-São Paulo durante o Carnaval 2020, trouxe o Covid-19 pro Brasil


Embora sua origem esteja na China, foi pela Itália que a Covid-19 chegou ao Brasil. Um estudo realizado por meio de uma parceria entre Brasil, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos calculou que 54,8% dos primeiros casos de contaminação tenham vindo do país europeu. O trabalho, publicado no Journal of Travel Medicine, ainda apontou a rota Milão-Guarulhos como a principal porta de entrada do novo coronavírus na América do Sul.

Ainda que invisível a olho nu, o vírus deixou rastros. Para identificá-los, os pesquisadores calcularam a incidência de Covid-19 em cada um dos 29 países com maior número de casos até o último dia 5 (ou seja: quando ainda não havia transmissão comunitária no Brasil) e multiplicaram pelo volume de passageiros vindos destes locais. O cálculo permitiu a eles fazer uma estimativa de quais origens e quais rotas atuariam como maiores propagadores da doença em solo brasileiro.

Itália é seguida da China e da França na ordem de rotas da doença no Brasil. O país onde a pandemia começou responde por 9,3% dos primeiros casos. Já a França foi a origem de 8,3% das contaminações. 

Como a capital paulista é destino nacional mais comum dos voos internacionais, a rota Itália-São Paulo foi a principal ponte entre os infectados e o Brasil, dando início à propagação do vírus . Ela responde por 24,9% dos viajantes contaminados. Já a rota Itália-Rio de Janeiro vem logo em seguida, com 9%.

Embora os Estados Unidos sejam a principal origem de passageiros vindos de voos internacionais (50,8%, contra apenas 7,5% da Itália), ele não teve papel importante na transmissão da doença . Isso porque a incidência da Covid-19 ainda era baixa até o dia 5, data de corte usada pelos pesquisadores.

"É importante lembrar que esses processos de transmissão de doenças infecciosas entre países, o que nós chamamos de corredores de transmissão, são geralmente processos de via dupla. Ou seja, não há necessidade ou intenção de culpar nenhum país ou região pela transmissão do vírus, pois a infecção em sentido contrário também poderia ter ocorrido. Ou poderá vir a ocorrer no futuro. O nosso estudo foca, no entanto, em identificar esses principais corredores de contágio ", ressalta Darlan da Silva Cândido, especialista em imunologia e um dos autores do estudo e doutorando da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

O pesquisador ressalta, no entanto, que ter a Itália como principal origem da Covid-19, e não a China , não faz diferença, já que o vírus é essencialmente o mesmo. Seu genoma adquire de uma a duas mutações por mês, velocidade mais lenta do que a do vírus da gripe comum ou do HIV. A maior contribuição do estudo é que ele pode ser usado como apoio para tomadas de decisão informando sobre os riscos e benefícios de manter certas rotas de mobilidade humana durante a pandemia.

Apesar disso, Cândido evita qualificar as suspensões de voos com destino ao Brasil (principalmente os vindos da Europa) como tardias. Ele reconhece que seria impossível manter o país isolado da Covid-19 e que mais importante é seguir as recomendações de distanciamento social.

"Até ontem, mais de 190 países e territórios já notificaram casos de Covid-19. Isso mostra o quão difícil, impossível mesmo, seria conter a chegada do vírus a um país tão grande e interconectado como o Brasil. O nosso foco agora deve ser adotar as medidas de controle recomendadas pela OMS e outras instituições especialistas no assunto e reforçar para a população geral a importância de reduzir o contato social, lavar sempre as mãos, cobrir a tosse com o braço e proteger principalmente os grupos de risco", afirma.

Importante destacar que o resultado do estudo é uma estimativa das rotas da Covid-19 em direção ao Brasil . O trabalho usa como base os números de voos internacionais entre fevereiro e março de 2019. Neste mesmo período este ano, a China já havia reduzido drasticamente as condições de mobilidade no país.

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