O significado do silêncio de Rodrigo Maia, em meio à luta de Bolsonaro contra o STF e Sergio Moro
Após a demissão de Sergio Moro, na última semana, e da "bomba" que o ex-ministro jogou na direção do presidente Jair Bolsonaro, muitos estranharam o silêncio de Rodrigo Maia.
O presidente da Câmara tem em mãos alguns pedidos de impeachment contra o presidente da república. O pronunciamento de Moro indicou uma conjugação de crimes comuns e de responsabilidade que estariam pavimentando o caminho do impeachment, e Maia poderia agir para derrubar o presidente.
Por que Rodrigo Maia se mantém em silêncio durante toda a atual crise política? A aproximação de Bolsonaro com o Centrão – grupo de partidos de centro-direita, de que faz parte o DEM, agremiação de Maia – teria transformado o presidente da Câmara dos Deputados em uma espécie de defensor do presidente?
Para Rodrigo Augusto Prando, professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp de Araraquara, essa afirmação não reflete a realidade.
O especialista destacou que o processo de impeachment é um processo jurídico e político e que Rodrigo Maia, apesar de ter sido "confrontado e atacado durante um ano e quatro meses", observa atentamente a conjuntura.
"Juridicamente me parece que Bolsonaro tem se esforçado muito para entregar esses elementos do crime de responsabilidade, pelo menos", acrescentou Prando ao Site.
Ele destacou também que o ex-ministro Sergio Moro, ao deixar o cargo na semana passada, teria apresentado elementos de crime comum, praticado por Bolsonaro, ao tentar interferir no trabalho da Polícia Federal.
Desse modo, a resposta para o silêncio de Maia, segundo o acadêmico, reside no aspecto político do processo de impedimento.
"Rodrigo Maia, como presidente da Câmara, não quer fazer um movimento que signifique uma derrota para ele no Parlamento", explicou.
O presidente ainda conta com 30% de apoio, daqueles que consideram o seu governo como ótimo, e esse número se mantém estável, mesmo com a primeira debandada de 15% no início do governo.
Além disso, as ruas estão vazias e sem protestos, em função da pandemia. E manifestações são um elemento importante para o início de um processo de impeachment.
Um outro fator importante a considerar durante a pandemia, seria a reticência da maior parte dos políticos de negociar à distância.
"O processo de impeachment envolve uma negociação muito próxima, ao pé de ouvido muitas vezes. Então, estando os deputados afastados uns dos outros por conta da pandemia, a negociação de um processo de impeachment deveria ser feita ligando um pro outro, mandando textos, mandando áudios", ponderou o entrevistado.
"Rodrigo Maia, vendo essa somatória de cenários, percebe que não há condições objetivas, que ele não teria 3/5 de deputados aprovando [o impeachment]", acrescentou.
O analista reconheceu que a aproximação de Bolsonaro ao Centrão, grupo representante da "velha política", segundo a linguagem do próprio Bolsonarismo, deu certo fôlego ao governo e afastou, por hora, o risco de abertura de investigação para um impeachment. No entanto, "se a situação do país, em termos econômicos, ou em questões relacionadas ao coronavírus e pandemia, deteriorar a situação política, nem mesmo o 'Centrão' fica no barco governista", garantiu o professor.
Por isso, apesar da evidente insatisfação política no Parlamento com Bolsonaro, o mecanismo constitucional é mais complexo para dar o andamento ao impeachment.
Por outro lado, Rodrigo Prando acredita que Bolsonaro continua enfraquecido, em função de pelo menos três investigações em curso no Supremo Tribunal Federal que afetam o presidente e também os seus filhos.