Não adiantou nem vacinação e nem tampouco lockdown, Coronavírus leva hospitais ao colapso na Hungria
Uma piora sem precedentes na situação da pandemia na Hungria colocou em dúvida a perspectiva de que a adoção conjunta de confinamento e vacinação fosse uma fórmula mágica contra a Covid-19.
Com taxas recordes de infecções diárias e hospitais em colapso, médicos e governo falam em terceira onda e a atribuem à disseminação da variante B.117, a chamada “variante britânica”.
Mais contagiosa e mais letal, segundo pesquisas recém-publicadas, a B.117 já causa de 80% a 90% dos novos casos em Budapeste, diz Béla Merkely, reitora da Universidade Médica Semmelweis, em entrevista.
No país como um todo, passam de 50% os casos atribuídos à mutação, de acordo com o laboratório de sequenciamento Neumann Lab.
Outro problema pode ser uma alta na mobilidade das pessoas, mesmo sob restrições. Dados de celulares monitorados pelo Google mostram que o nível de circulação atual está cerca de 20% abaixo do pré-pandemia e vem subindo desde janeiro, quando estava 40% abaixo.
O número diário de novos casos, que já vinha de uma média preocupante de 5.100 na última semana, saltou para 8.312 nas últimas 24 horas, elevando para 128.408 o total de casos ativos no país.
O número de mortes também só sobe, apesar de a Hungria ter mantido as restrições duras impostas em novembro do ano passado, com fechamento de escolas para maiores de 11 anos, proibição ao comércio não essencial, limitação de reuniões a dez pessoas e toque de recolher das 20h às 5h.
Uma nova rodada de medidas foi imposta nesta segunda (8), incluindo o fechamento da maioria das empresas e a suspensão do ensino infantil e do fundamental.
A piora dos dados epidemiológicos superou ainda a campanha de vacinação da Hungria, cujo governo foi um dos poucos do bloco a aprovar imunizantes ainda não liberados pela União Europeia, como a Sputnik V, da Rússia, e a chinesa Sinopharm. Dos 27 membros do bloco europeu, é a Hungria a que mais doses disponíveis tem em relação à sua população: 25 para cada 100 habitantes.
Além de maiores estoques, o país tem também uma das maiores taxas de aplicação de doses —cerca de 16 a cada 100 pessoas—, número modesto em relação aos mais de 30/100 do Reino Unido, mas superior ao da rica Alemanha, que gira em torno de 10/100. Apesar disso, com cada vez mais frequência sua situação sanitária tem sido classificada como desesperadora.
Desde 18 de fevereiro, o número de doentes internados duplicou e o dos que precisaram de tratamento intensivo triplicou, afirmou em entrevista nesta quinta (11) a médica-chefe do país, Cecília Müller.
São 8.329 leitos ocupados por portadores de Covid-19, um número recorde —o pico anterior, de 8.045, havia ocorrido em dezembro. Estão sob ventilação mecânica 911 pessoas, mais de 91% da capacidade máxima de UTIs estimada. “São números muito altos e precisamos fazer tudo para proteger a população.”
Seguindo fenômeno registrado em outros países (incluindo o Brasil), cresceu a proporção de pacientes mais jovens, e hospitais de várias partes do país —como o da cidade de Hatvan— já declararam não ter capacidade para aceitar novos pacientes. Em veículos jornalísticos húngaros, multiplicam-se relatos de médicos que são obrigados a escolher quem vai receber ajuda.
Pacientes mais jovens e sem doenças crônicas, considerados com maior chance de sobrevivência, deslocam do tratamento intensivo os mais idosos ou com doenças subjacentes. “Ainda assim, estamos perdendo pessoas que teriam 20, 30 anos pela frente, que não verão a formatura no ensino médio de seus filhos, muito menos conhecerão os netos”, disse um médico ao 444.hu.
Para agravar o quadro, a perspectiva é de piora, segundo a médica-chefe. A presença de material genético do coronavírus nas águas de esgoto tem aumentado —e, segundo cientistas, os testes começam a detectar o patógeno nesses rejeitos dois dias antes de os sintomas aparecerem.
Em projeções mais recentes, o governo da Hungria afirma que o pico do contágio deve acontecer em abril.