Nova variante B.1.1.529 (ÔMICRON) do Coronavírus atinge a África do Sul, e outros países do Continente Africano e alerta todo o mundo
A Inglaterra já proíbe voos vindo da África do Sul, Namíbia, Lesoto, Botswana, Eswatini e Zimbábue a partir do meio-dia de sexta-feira em meio a nova variante.
A variante - chamada B.1.1.529 - tem uma “constelação muito incomum” de mutações, que são preocupantes porque podem ajudar a evadir a resposta imunológica do corpo e torná-la mais transmissível, disseram cientistas a repórteres em entrevista coletiva na quinta-feira.
O Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD) disse que 22 casos positivos da nova variante foram registrados no país após o sequenciamento genômico.
“Infelizmente, detectamos uma nova variante que é motivo de preocupação na África do Sul”, disse o virologista Tulio de Oliveira em entrevista coletiva.
A variante “tem um número muito alto de mutações”, disse ele. “Infelizmente, está causando um ressurgimento de infecções”, acrescentou.
Também foi detectado em Botswana e Hong Kong entre viajantes da África do Sul, disse ele.
O Ministro da Saúde, Joe Phaahla, disse que a variante era uma “séria preocupação” e por trás de um aumento “exponencial” nos casos relatados, tornando-a “uma grande ameaça”.
As infecções diárias aumentaram para mais de 1.200 na quarta-feira, ante cerca de 100 no início deste mês.
“O que nos preocupa (é) que esta variante pode não apenas ter melhorado a transmissibilidade, então se espalhar com mais eficiência, mas também pode ser capaz de contornar partes do sistema imunológico e a proteção que temos em nosso sistema imunológico”, disse o pesquisador Richard Lessells.
Até agora, a variante foi vista se espalhando especialmente entre os jovens.
Mas os próximos dias e semanas serão a chave para determinar a gravidade da variante, disse Lessells.
Neutralizar a variante é “complicado pelo número de mutações que ela contém”, disse um dos cientistas, Penny Moore.
“Esta variante contém muitas mutações com as quais não estamos familiarizados”, acrescentou ela.
Após um início bastante lento da campanha de vacinação na África do Sul, cerca de 41% dos adultos receberam pelo menos uma única dose, enquanto 35% estão totalmente vacinados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu nesta sexta-feira, 26, a nova cepa do coronavírus identificada na África do Sul como uma variante de preocupação (VOC, na sigla em inglês), que passa a ser batizada como Omicron. A classificação é uma medida de alerta sobre os possíveis efeitos que a variante pode ter sobre o curso da pandemia de covid-19, ainda que não estejam totalmente claros os riscos impostos pela cepa na transmissão da doença e na proteção vacinal.
A líder técnica da OMS para temas da covid-19, Maria van Kerkhove, solicitou que sejam ampliados a vigilância epidemiológica e os sequenciamentos genéticos das amostras. "A variante foi detectada em um ritmo mais rápido do que em casos anteriores quanto ao número de infecções, o que pode indicar que haja uma vantagem da cepa quanto à propagação", disse a entidade em um comunicado.
A decisão da OMS ocorre um dia depois de o governo da África do Sul confirmar publicamente a circulação da variante, caracterizada por uma “constelação incomum de mutações”. O comunicado fez com que ao menos nove países decidissem adotar restrições a viajantes com passagens pelo país africano e também em países vizinhos, como a Namíbia. Reino Unido, Alemanha e França são alguns dos que adotaram a barreira.No Brasil, a Anvisa recomendou ação similar, mas a decisão cabe ao governo federal.
O cientista brasileiro Tulio de Oliveira, diretor do Centro para Resposta a Epidemias e Inovação da África do Sul (Ceri), disse que a melhor maneira de controlar a variante é com medidas de saúde (como distanciamento social e uso de máscaras), e que o lockdown é o último recurso para quando já não se tem essas medidas. Segundo ele, a nova variante está se espalhando principalmente pelos mais jovens, que são os mais sociáveis.
“Tem sido quatro, três dias muito ocupados no front científico e estamos fazendo nosso trabalho com a maior velocidade e escrutínio de dados para tornar essa informação pública para os tomadores de decisão”, disse o pesquisador, em coletiva de imprensa.
O ministro da saúde da África do Sul, Mathume Joseph Phaahla, disse, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, que a reação de alguns países como o Reino Unido e a União Europeia, que recomendou restrições de voos da África do Sul, são “injustificadas”.
Segundo o ministro, alguns cientistas indicaram que pode ser mais transmissível por causa das mudanças, mas não há indicação de que a variante é mais severa. “Quando você encontra uma variante no país, você não sabe onde originou. Muitos desses países (que estão adotando restrições contra a África do Sul) tiveram medidas draconianas. Alguns países estão com mais infecções do que a África do Sul. Isso não parece científico de jeito nenhum, esse tipo de reação quer colocar culpa em outros países”.
Chamada de B.1.1.529, a nova variante é responsável por 22 casos de covid-19 no país até o momento. Adrian Puren, diretor executivo do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul (NICD), afirmou, em comunicado à imprensa, que embora os dados até o momento sejam limitados, os especialistas do Instituto estão trabalhando para estabelecer mecanismos de vigilância para entender a nova variante e suas implicações.
Os casos detectados e a porcentagem de testes positivados aumentaram rapidamente nas províncias de Gauteng, a mais populosa do país, North West e Limpopo. Michelle Groome, chefe da divisão de vigilância e resposta em saúde pública do NICD, disse que as autoridades de saúde provinciais continuam em alerta máximo e estão priorizando o sequenciamento de amostras positivas para covid-19.
Ainda não há estudos conclusivos, mas as características da nova cepa apontam risco de maior transmissão ou de escape da proteção das vacinas. O cientista brasileiro Tulio de Oliveira é diretor do Ceri, o Centro para Resposta à Epidemias e Inovação da África do Sul, país onde foi identificada a variante. Segundo ele, é preciso ajudar o país a conter a nova ameaça, e não isolar a região.