Gabriel Boric é eleito e se torna o primeiro Presidente mais jovem da História do Chile; Chile agora irá abraçar a agenda 2030 com o ecossocialismo progressista
O deputado e ex-líder estudantil Gabriel Boric, 35 anos, foi o vencedor do segundo turno eleitoral no Chile, derrotando o opositor de extrema direita, José Antonio Kast, 55, também chamado pela imprensa local de “Bolsonaro chileno”. O recém eleito, representante da frente esquerda Apruebo Dignidad, foi eleito com uma significativa vantagem de votos sobre seu opositor da Frente Social Cristã. Com 99,88% das urnas apuradas, Boric recebeu 55,87% dos votos e, Kast 44,13%.
José Antônio Kast (Foto reprodução)
A eleição de Boric surpreendeu, pois as pesquisas eleitorais tinham indicado empate técnico, o que acabou não ocorrendo. A vitória do recém eleito não foi prevista, sendo a primeira vez nas eleições presidenciais, desde a redemocratização, que o candidato melhor colocado no primeiro turno não terminou como vencedor no segundo turno. Boric foi vitorioso em grande parte do país, e ganhou em 11 das 16 regiões do Chile.
A partir de março de 2022, quando tomar posse, Gabriel Boric será o presidente mais jovem não só do Chile, mas também de toda a América Latina. Com o início de sua gestão, o novo presidente deve focar na agenda de transformações sociais exigidas nos protestos iniciados em outubro de 2019 no país andino.
Boric defende pautas ligadas a feminismo, meio ambiente, permissão para o aborto e casamento gay, além de ter sido voz ativa na campanha para a redação da nova Carta Magna chilena.
O jovem presidente nasceu e foi criado em Punta Arena, no extremo Sul do Chile, em uma família de classe média alta. Desde os 13 anos de idade, Boric faz parte do movimento estudantil, tendo participado ativamente da refundação da Federação de Estudantes Secundaristas de Punta Arenas.
O jovem esquerdista cursou Direito na Universidade do Chile, em Santiago, onde despontou como líder estudantil, até ser alçado a porta-voz da Federação de Estudantes do Chile, principal órgão estudantil do país.
Durante as mobilizações alavancadas por estudantes em 2011, – atos por todo o país, que pediam, principalmente, mais verbas para a educação pública – Boric passou a ser conhecido nacionalmente, se tornando um dos rostos das manifestações. No fim do mesmo ano, foi eleito presidente do diretório estudantil da Universidade do Chile.
Antes de chegar ao posto mais alto do Executivo, Boric foi eleito deputado duas vezes. O líder estudantil iniciou a carreira política fazendo parte do coletivo “Esquerda Autônoma”, grupo que mesclava ideias ligadas ao socialismo libertário, autonomismo e feminismo.
Eleito pela primeira vez em 2013, Boric se destacou por uma candidatura de sucesso fora dos grandes partidos. À época, a mídia chilena classificou o político iniciante como o “jovem que rompeu o sistema partidário”. Em seu primeiro mandato, o deputado ganhou notoriedade por propor uma matéria que previa a diminuição em 40% do salário dos congressistas. O Projeto de Lei, contudo, foi barrado pelo Congresso.
Na segunda empreitada como deputado, deixou seu partido e participou da criação da Frente Ampla, grupo composto por siglas de esquerda. Em 2018, fundou a própria legenda, a “Convergência Social”, que faz parte da coalisão Apruebo Dignidad, conglomerado de partidos de esquerda pelo qual disputou a presidência.
Em meio a efervescência dos protestos no Chile, em outubro de 2019, Boric foi visto discutindo com um policial no local das manifestações. O parlamentar é um dos críticos da gestão atual, comandada por Sebastian Piñera, principalmente pela violenta repressão policial contra os manifestantes chilenos durante os atos.
Outro grande marco na carreira política de Boric é sua participação no plebiscito para reescrever a Constituição chilena, datada ainda do período da ditadura de Augusto Pinochet. Em seu segundo mandato como deputado federal, o agora presidente eleito foi fundamental para realizar as costuras políticas entre os partidos para elaborar a nova Carta Magna do Chile.
O que esperar
A agenda do recém eleito tem foco principal nos direitos das mulheres e de grupos LGBTQIAP+, além de defender a descentralização administrativa. Seu projeto de governo consiste em quatro pilares: garantia de acesso à saúde; pensões que não envolvam o sistema atual (que é administrado por empresas privadas); sistema educacional público gratuito e de qualidade; e a priorização do meio ambiente.
Contudo, o presidente eleito incluiu em sua campanha no segundo turno temas como segurança pública, crime, imigração descontrolada e crescimento econômico para satisfazer um eleitorado mais afastado de suas linhas ideológicas e que é preocupado com essas questões.
A oposição a Boric também tem dúvidas quanto à falta de experiência de governo do jovem mandatário, que também não possui a maioria no Parlamento. A preocupação aumenta uma vez que o país passa por uma crise política e por uma situação econômica difícil, com alto desemprego e inflação.
Em seu discurso de vitória, Boric garantiu que as mudanças "virão passo a passo, degrau por degrau". Tendo o diálogo como uma forte característica, o esquerdista também afirmou que seu governo deve manter conversas com Kast, candidato derrotado. "Nosso objetivo é o bem-estar dos chilenos e para isso precisaremos dialogar com todos os setores", disse o presidente eleito.
Crítico ferrenho do liberalismo, Boric deve manter seus direcionamentos alinhados às bandeiras da coalizão Apruebo Dignidad, como justiça social, feminismo, movimentos sociais, direitos dos povos originários, meio ambiente e o desafio da desigualdade social. Entre os planos apresentado nas campanhas, o presidente eleito tem como objetivos criar o Banco Nacional de Desenvolvimento, perdoar os créditos universitários e reduzir a jornada de trabalho no Chile para 40 horas semanais.
Feministas fizeram a diferença para que Boric vencesse.