Apesar de tensão, Bolsonaro diz que irá à Rússia e cita fertilizantes por ser um motivo especial para realizar a viagem


O presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou hoje que deve embarcar para a Rússia na segunda-feira (14), apesar da elevação de tensões entre Moscou e a Ucrânia.


O mandatário disse que foi convidado pelo presidente russo, Vladimir Putin, e que o Brasil depende de grande parte de fertilizantes daquele país e da Bielorrússia. 


"Levaremos um grupo de ministros também para tratarmos de outros assuntos que interessam ao nosso país, energia, defesa e agricultura", disse Bolsonaro em uma transmissão nas redes sociais.


A assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura confirmou ontem que a chefe da pasta, Tereza Cristina, não irá, por estar infectada com a covid-19.


"A gente pede a Deus que reine a paz no mundo para o bem de todos nós", acrescentou o presidente, se referindo à crise na Ucrânia.


Ontem, os Estados Unidos disseram ter a informação de que Putin pode invadir a Ucrânia nos próximos dias —citando fontes do governo norte-americano, o jornal The New York Times informou que isso pode ocorrer na quarta-feira (16).


Bolsonaro tem encontro marcado com Putin na quarta. No dia seguinte, segue para Budapeste, para agenda com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, líder nacionalista de extrema-direita.


Além do encontro com os líderes, Bolsonaro terá uma reunião com empresários de diversas áreas, como energia e fertilizantes agrícolas.


Segundo o governo brasileiro, a expectativa da viagem é focar na relação comercial entre Brasil e Rússia, tendo em vista que as parcerias entre os dois países ainda não são consideradas ideais, principalmente porque ambos fazem parte do grupo Brics, que também inclui China, Índia e África do Sul.


GSI é contra viagem

A situação no terreno vem sendo monitorada pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e pelo Ministério da Defesa. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a equipe chefiada pelo ministro Augusto Heleno já se manifestou contra a viagem.


Integrantes do Palácio do Planalto acompanham a apreensão internacional em torno da viagem presidencial a Moscou. A visita foi negociada no fim do ano passado e a informação nos bastidores do governo é de que, apesar do clima de guerra, o presidente não cancelou a viagem para demonstrar que não cedeu aos apelos dos Estados Unidos de Joe Biden.


A equipe de Bolsonaro está incomodada com excesso de documentos e exames requisitados pelos russos à delegação — de acordo com as orientações enviadas pelo Kremlin ao governo brasileiro, às quais a BBC News Brasil teve acesso, o presidente e os membros da comitiva que se aproximarão de Putin teriam que fazer até cinco exames do tipo PCR para detecção de covid-19.


Ucrânia espera que Bolsonaro leve "recado" contra guerra

Conforme publicado pelo colunista do UOL Jamil Chade, a embaixadora da Ucrânia na ONU (Organização das Nações Unidas), Yevheniia Filipenko, diz que não cabe a autoridades de seu país questionar o momento de uma viagem de um líder estrangeiro à Rússia, mas afirmou que espera que Bolsonaro leve a Putin uma "mensagem clara" contra uma guerra na Ucrânia e pela defesa da diplomacia.


Americanos e europeus têm criticado o comportamento de Putin, que colocou 120 mil soldados nas proximidades da fronteira com a Ucrânia e num gesto considerado pelas autoridades ocidentais como sendo uma ameaça à soberania ucraniana.


Moscou nega que esteja planejando uma invasão, mas insiste que é a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que está ameaçando sua segurança ao ampliar suas atuações para países do Leste Europeu.


O Itamaraty publicou ontem um comunicado no qual elogia a relação com a Ucrânia e comemora a data dos 30 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países.


A Embaixada do Brasil em Kiev, na Ucrânia, divulgou nota, ontem, para pedir aos brasileiros que estão no país que se mantenham em alerta em meio à possibilidade de conflito com a Rússia. Porém, não há recomendação para saída do país.

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