Economia da China “anda para trás” com impacto de recente novos lockdown
O gigantesco setor de serviços da China acaba de se contrair no segundo ritmo mais acentuado já registrado, à medida que os bloqueios contra a Covid-19 atingem fortemente as empresas.
O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do Caixin (publicação financeira), um indicador observado de perto para avaliar o estado da economia, despencou para 36,2 em abril, de 42 em março, de acordo com uma pesquisa divulgada pela IHS Markit na quinta-feira (5). Uma leitura abaixo de 50 indica contração, enquanto qualquer coisa acima desse indicador mostra expansão.
O setor de serviços responde por mais da metade do PIB do país e mais de 40% de seu emprego. E com os dados da pesquisa mostrando que o setor manufatureiro da China também encolheu no mês passado, a segunda maior economia do mundo retrocedeu em abril.
Embora as condições possam melhorar este mês, à medida que as taxas de infecções por Covid-19 diminuem e as autoridades tentam limitar os danos à economia, grande parte de Pequim acaba de ser colocada sob restrições mais rígidas e alguns economistas agora estão prevendo que o PIB chinês diminuirá no segundo trimestre.
A capital do país fechou efetivamente seu maior distrito, Chaoyang, suspendendo o transporte dentro dele e incentivando 3,5 milhões de moradores a trabalhar em casa como parte de seu mais recente esforço para conter os casos da doença, anunciaram as autoridades locais na quarta-feira (4).
O declínio de quase 6 pontos na atividade de serviços em abril ficou atrás apenas do colapso em fevereiro de 2020, quando a economia da China quase parou enquanto lutava para conter o surto inicial de coronavírus que começou em Wuhan. Naquele mês, o PMI de serviços da Caixin caiu para 26,5 de 51,8 em janeiro.
As empresas da segunda maior economia do mundo já estavam enfrentando o aumento dos custos de energia e matérias-primas, quando os bloqueios para conter o coronavírus prejudicaram ainda mais suas operações.
Também ficou mais difícil para as empresas repassar os preços mais altos aos consumidores, devido ao impacto que as restrições contra a Covid-19 têm na demanda dos clientes. Isso se traduziu em empregos ainda mais baixos.
“Algumas empresas, afetadas pela queda nos pedidos, demitiram trabalhadores para reduzir custos”, disse Wang Zhe, economista sênior do Caixin Insight Group. A medida para o emprego no setor de serviços está abaixo de 50 por quatro meses consecutivos, mostrou a pesquisa.
Os dados vieram poucas horas depois que a China relatou uma queda acentuada nos gastos turísticos para o feriado nacional do Dia do Trabalho.
Os gastos dos turistas foram de apenas 64,7 bilhões de yuans (US$ 9,8 bilhões) durante o feriado de cinco dias, uma queda de 43% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com um comunicado do Ministério da Cultura e Turismo na quarta-feira.
As pessoas fizeram 160 milhões de viagens turísticas domésticas durante o feriado, uma queda de 30% em relação ao ano anterior. Os dados novamente destacam como a política de ‘zero Covid’ da China afetou fortemente sua economia.
No sábado (30), as pesquisas do PMI do governo indicaram que as atividades fabris e não manufatureiras caíram em abril para seus piores níveis desde fevereiro de 2020.
“As tendências recentes de mobilidade sugerem que o ritmo de crescimento da China se deteriorou significativamente em abril”, escreveram analistas da Fitch Ratings na terça-feira (3). Eles esperam que o PIB contraia no segundo trimestre, antes que a produção se recupere no segundo semestre.
Os analistas do Nomura também alertaram no mês passado para um risco crescente de “recessão” no segundo trimestre, à medida que os bloqueios, o encolhimento do setor imobiliário e a desaceleração das exportações atingem fortemente a economia.
À medida que a variante Omicron altamente transmissível se espalha rapidamente na China, o país está enfrentando seu pior surto em mais de dois anos.
Até agora, pelo menos 27 cidades chinesas estão sob bloqueio total ou parcial, o que pode afetar até 185 milhões de habitantes em todo o país, de acordo com o último cálculo da CNN.
Isso inclui Xangai – o principal centro financeiro do país e um importante centro de fabricação e transporte. A cidade está fechada desde 28 de março. Embora as autoridades tenham começado a suspender algumas restrições no mês passado, mais de 8 milhões de moradores ainda estão proibidos de deixar seus complexos residenciais.
O governo chinês ainda adere à sua rigorosa política de zero Covid mais de dois anos após o surto inicial – em um momento em que o resto do mundo está aprendendo a viver com a Covid-19. A política envolve testes em massa obrigatórios e bloqueios rigorosos para conter a propagação do vírus.
Mas os custos econômicos estão aumentando.
Muitos economistas rebaixaram suas metas de crescimento do PIB da China para este ano, citando riscos da política de zero Covid. No mês passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu sua previsão de crescimento da China para 4,4%, bem abaixo da meta oficial do governo de cerca de 5,5%.
Nos últimos dias, os líderes chineses tentaram repetidamente tranquilizar o público sobre como consertar a economia. O presidente Xi Jinping pediu na semana passada uma onda de gastos em infraestrutura para promover o crescimento. E o Politburo do Partido Comunista prometeu na sexta-feira “medidas específicas” para apoiar a economia da internet.