O Fundo Monetário Internacional enviará recursos vultuosos à Ucrânia, exigindo contrapartidas socioeconômicas. Para economista ouvido pela Sputnik Brasil, Ocidente quer controlar a Ucrânia através do endividamento de Kiev.
No dia 31 de março, o Fundo Monetário Interacional (FMI) aprovou linha de crédito de US$ 15,6 bilhões (cerca de R$ 78,99 bilhões) para a Ucrânia. Esse é o primeiro empréstimo a um país em guerra da história da organização.
O PIB ucraniano encolheu cerca de 30% em 2022 e o país apresenta grande déficit fiscal. Os recursos do FMI serão liberados ao longo de quatro anos. Caso o conflito ainda esteja em curso em 2025, a Ucrânia receberá recursos adicionais, informou a Al Jazeera.
De acordo com a vice-diretora-executiva do FMI, Gita Gopinath, o novo programa de quatro anos visa "ancorar a estabilidade macroeconômica e financeira, bem como realizar reformas estruturais críticas".
Como contrapartida, o FMI exige que a Ucrânia reforce regras sobre a independência do seu Banco Central e altere sua legislação referente ao combate à corrupção, informou o jornal Kommersant.
"Quando o FMI libera recursos a um país, ele condiciona toda a política econômica e social deste país", disse o professor de economia da UFAL, José Menezes Gomes, à Sputnik Brasil. "O endividamento permite que esses órgãos controlem as decisões econômicas e sociais dos países endividados, como a Ucrânia."
De acordo com o economista, "o sistema da dívida é uma forma de controlar países e não oferece autonomia para ninguém".
"O país fica prisioneiro, e por isso demanda cada vez mais recursos. Quanto mais recursos pede, mais altos os juros ficam. E quem ganha com isso são os bancos", explicou o economista.
Segundo ele, no final deste ciclo, o país endividado acaba realizando privatizações em massa e passando por políticas de austeridade severas, como no caso da Grécia.
União Europeia
Vice-diretora-executiva do FMI, Gopinath também revelou que os recursos do FMI serão utilizados para que a Ucrânia possa cumprir as condições de entrada na União Europeia (UE). Para Menezes, no entanto, a entrada de países com menor índice de desenvolvimento no bloco europeu pode ser uma armadilha.
"Analisei os dados socioeconômicos dos países que entraram na UE, tanto em termos de acesso a serviços sociais, quanto endividamento familiar. Observei que o bloco não oferece saúde, educação nem emprego", revelou Menezes. "Quem entrou na União Europeia fez um péssimo negócio."
Ao contrário do que diz o senso comum, a União Europeia já não representa o estado de bem-estar social, mas sim "a austeridade e o neoliberalismo".
"A União Europeia só oferece austeridade. Ao entrar no bloco, tudo o que os países do Leste ganham é um passaporte europeu para que sua população dispute trabalho precário na UE", lamentou Menezes.
O economista analisou o histórico do balanço de pagamentos dos países europeus para concluir que somente quatro países se beneficiaram da formação do bloco econômico, com destaque para a Alemanha.
"A União Europeia é o mecanismo pelo qual a Alemanha conquista sua hegemonia regional", disse Menezes. "São as empresas alemãs que lucram com a expansão europeia. É o prêmio que a Alemanha ganha por se manter subordinada aos EUA."
Segundo ele, a Ucrânia é de particular interesse do bloco por ser o maior país do continente, com ampla oferta de terras férteis.
"Quem vai controlar a Ucrânia após o conflito? Vai ser alguém diretamente ligado ao setor financeiro, não vai ser um palhaço. Não vão mais precisar terceirizar a liderança para um palhaço, eles vão querer representação direta", concluiu o economista.
No dia 31 de março, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou a concessão de pacote de US$ 15,6 bilhões (cerca de R$ 78,99 bilhões) para a Ucrânia. O pacote faz parte de programa mais amplo de ajuda financeira, que totaliza US$ 115 bilhões (cerca de R$ 582 bilhões). Essa foi a primeira vez na história que o fundo concedeu empréstimos a um país em meio a conflito militar.