Desmatamento tem grande impacto nas temperaturas regionais, mostra estudo feito na Amazônia Brasileira
O desmatamento tem um impacto muito maior nas temperaturas regionais do que se acreditava anteriormente, de acordo com um novo estudo sobre a Amazônia brasileira que mostra que as empresas agrícolas estariam entre as maiores beneficiárias da conservação da floresta.
A pesquisa tem implicações políticas importantes porque os agricultores dos estados amazônicos lideraram, até agora, a destruição da floresta na suposição de que ganhariam dinheiro desmatando mais terras.
A nova pesquisa destaca o outro lado do quadro. Ele mostra que o coração agrícola de Mato Grosso, onde as lavouras já sofrem com a seca e o calor extremo, seria pouco mais de meio grau Celsius mais quente nos próximos anos se o desmatamento continuasse no ritmo acelerado desses últimos anos.
O artigo, publicado na segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, demonstrou que o desmatamento da Amazônia causa aquecimento a distâncias de até 60 milhas (100 km) de distância. Quanto maior o desmatamento, maior a temperatura. Isso se soma ao impacto climático.
Dominick Spracklen, da Universidade de Leeds, disse que a árvore média teve um efeito de resfriamento equivalente a dois a três aparelhos de ar-condicionado de 2,5 kW trabalhando em potência máxima a cada hora de cada dia. Isso funciona por meio da evapotranspiração, que ele disse ser muito semelhante ao suor que os humanos produzem para baixar a temperatura corporal. Ele disse que o efeito se espalhou mais do que qualquer um imaginava.
"Sempre pensamos que isso poderia estar acontecendo, mas a extensão é maior do que eu imaginava", disse ele. "Cada vez mais, estamos demonstrando os grandes benefícios que as florestas trazem para as regiões do entorno. Para os agricultores, eles trazem ar mais frio e mais chuvas. Espero que colocar números sobre esses benefícios ajude a persuadir um conjunto mais amplo de pessoas a proteger as áreas florestais."
Um número crescente de estudos revisados por pares está comprovando a importância da Amazônia na manutenção de um clima regional estável. No início deste ano, um artigo mostrou que o desmatamento da floresta reduziu as chuvas a até 125 quilômetros de distância. Mais recentemente, pesquisas em maior escala demonstraram que a Amazônia estava acoplada às monções sul-americanas e que o desmatamento contínuo poderia reduzir a precipitação regional em 30%, com consequências terríveis para a produção de alimentos.
Até agora, os estudos sobre o impacto do desmatamento florestal no calor se concentraram nos efeitos locais, com uma clara correlação entre a perda de cobertura arbórea e temperaturas mais altas na área onde as árvores foram cortadas. A nova pesquisa foi além, analisando se também há um efeito de aquecimento em uma área mais ampla. Usando dados de satélite e inteligência artificial, os autores encontraram um aumento de 0,7ºC na temperatura para cada perda de 10 pontos percentuais de floresta em um raio de 60 milhas.
Em áreas que foram amplamente desmatadas, o impacto é considerável. Como conclui o artigo: "Mostramos que a perda de floresta regional aumenta o aquecimento em mais de um fator de quatro, com sérias consequências para a floresta amazônica remanescente e para as pessoas que vivem lá".
No entanto, o autor principal, Ed Butt, disse que isso deve ser visto não como um alarme, mas como uma ferramenta útil para incentivar o manejo sustentável da floresta. "Se pudéssemos reduzir o desmatamento, poderíamos evitar uma boa quantidade de aquecimento regional. Vejo isso como uma grande oportunidade. Isso demonstra o grande benefício da redução do desmatamento para os agricultores locais... O mais importante é que estados como Mato Grosso possam seguir futuros diferentes. Isso devolve o controle para regiões e estados. Eles podem realmente reduzir a quantidade de aquecimento a que serão expostos."
Fonte: THE Guardian
Tradução: BDN